Tuesday, May 8, 2007

fim_de_linha.com


Esta é a locadora de filmes de seu Fernando, no fim de linha da Federação. Aqui, a diária para assistir ao vencedor do Oscar, Os Infiltrados, não custa mais do que R$3. Alguma cópia chamada de catálogo, como Gangs de Nova Iorque, do mesmo diretor Martin Scorsese, pode ser encontrada por R$1, a depender do dia da semana. Uma quitandinha no balcão comercializa pirulitos, balas e barras de chocolate, mas o campeão de audiência nesse eclético estabelecimento de 14 metros quadrados é mesmo a possibilidade de conexão à internet. São quatro micros (dois pentium e dois jurássicos 486) que estão quase sempre ocupados por fregueses a qualquer hora do dia. A tabela de preços normal faz uma progressão aritmética em que o acesso por 15 minutos custa R$0,50, meia hora sai ao preço de R$1 e 60 minutos por R$1,50. Recentemente, seu Fernando lançou uma promoção para motivar o usuário a ficar mais tempo na frente do micro: uma hora por R$1,25.

No estado em que o terceiro maior PIB do Brasil faz o paradoxo com o analfabetismo engolindo quase 50% da população, a locadora de seu Fernando, no fim de linha da Federação, é um centro de inclusão digital de resultados imediatos. Na mesma rua, outras duas portinhas oferecem os serviços para quem deseja checar sua conta de email grátis, imprimir um trabalho escolar, conversar pelo MSN com o candidato a namorado (aliás, segundo Rosilane, a balconista, este é o mais cobiçado tema nos diálogos que consegue bisbilhotar de um e outro).

Nas redondezas, os garotos fanáticos por games já tinham se acostumado a passar horas em escuras lan houses, disputando intermináveis duelos de games de tiro em primeira pessoa (contam que o campeão de Doom na vizinhança, depois de quatro horas ininterruptas de massacre contra os vilões foi arrancado da cadeira a golpes de cachação no pescoço por um adversário insuperável: uma mãe furiosa). A escola pública do bairro tem dias que sequer oferece cadeira para todos os alunos da classe, quanto mais um laboratório de informática. O micro computador que ficava no Centro Social Urbano teve um problema no monitor e virou adereço ao lado do bebedouro. Inclusão mesmo, portanto, só a do seu Fernando (pena ele ser tímido ao ponto de não aceitar auto-retratos) e as dos concorrentes. Ele abriu a locadora há mais de cinco anos e, na lembrança de Rosilane, o acesso a internet começou há um ano e meio, num negócio bem lucrativo. “É que filme, a pessoa assiste uma vez e não aluga de novo. Já Orkut, a gurizada quer acessar todo dia”. Não foi preciso ser Negroponte para descobrir que mais rende 24kbytes do que 24 quadros por segundo.

No comments: