Wednesday, May 30, 2007

O Futuro é Livre!

Na aula do dia 23, o tema "inclusão digital" foi bem recorrente. Segue uma entrevista que aborda o assunto concedida por uma das figurinhas mais repetidas desse blog: Sérgio Amadeu.

A matéria é do Jornal A Tarde, caderno Digital, e foi feita pelo repórter Rodrigo Vilas Bôas.

"O governo está tímido em relação à inclusão digital"

Um dos principais ícones e defensores do software livre no Brasil, Sérgio Amadeu da Silveira acredita que o Brasil não conseguirá romper com a miséria se não apostar na educação massiva e nas tecnologias do futuro.

Em passagem por Salvador, na semana passada, ele participou do debate de abertura da III Semana de Software Livre da Faculdade de Educação (FacedUfba). Sociólogo e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Silveira já presidiu o Instituto Nacional da Tecnologia da Informação (ITI), de 2003 a 2005, foi membro do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Em entrevista exclusiva ao repórter Rodrigo Vilas Bôas, ele fala sobre inclusão digital e expansão dos softwares livres no País. Amadeu opina sobre o papel do governo em relação à inclusão e comenta sobre o futuro da Microsoft em relação aos softwares livres. Na avaliação dele, graças a esses softwares, jovens talentosos vão poder se destacar no mercado de trabalho, criando produtos interessantes e de boa qualidade.

A TARDE A inclusão digital depende de elementos como o computador, o telefone e o provimento de acesso à formação básica em softwares aplicativos. Em que ela esbarra no Brasil?
SÉRGIO AMADEU Nenhum país com tecnologias ultrapassadas consegue dar um salto em direção ao desenvolvimento. O governo brasileiro está sendo tímido em relação à inclusão digital. Existe uma incompreensão do que ela significa. Inclusão digital não é computador. É um amplo processo de capacitação, que engloba unidades de acesso coletivos gratuitos, monitores e suporte técnico.

AT O que está faltando?
SA O governo federal deveria reunir os governos estaduais e fazer um processo de organização das políticas públicas de inclusão digital. Definir o papel dos estados e municípios. Defendo o uso do computador como um elemento que possa ampliar as possibilidades de ensino e a aprendizagem. As escolas do jeito que estão hoje, no entanto, são incapazes de preparar a sociedade. Acredito que a máquina em si não faz nada. Mas as crianças em rede podem gerar um processo sinergético que pode revolucionar a educação.

AT Utilizar softwares livres nas escolas ajudaria a revolucionar a educação?
SA Os governos devem usar os programas de software livre. A Bahia já começou a fazer isso. É preciso incentivar o uso de computadores que já venham com softwares livres instalados. Dessa forma, a lógica de utilização vai se disseminando nos usuários.

AT O que está faltando para o software livre explodir?
SA O uso do software livre é uma mudança de paradigma, de cultura. Para que ele se implante, é necessário superar todo o processo que mantém o software proprietário na residência das pessoas.

AT Quais as vantagens do software livre?
SA O monopólio mundial de softwares sempre viveu de cobrar licença de empresas, instituições e governos. O código-fonte do software livre é liberado e não está restrito a um país. Isso beneficia o desenvolvedor local ao permitir que ele conheça a aplicação do software que está usando.

AT A Microsoft não vê com bons olhos o software livre. Isso não dificultaria a sua disseminação?
SA A tendência da Microsoft é aderir, num futuro próximo, ao software livre. Colaborar é mais eficiente do que competir. Ela vai resistir, tentar açambarcar, envolver, mas será derrotada.

AT Aliás, muitas empresas já estão aderindo...
SA Os governos da Europa e o do Brasil estão optando por usar formatos abertos. Não é interessante ficar amarrado no formato de uma única empresa. O Open Document Format (ODF), por exemplo, é um formato de texto bastante utilizado, uma necessidade de interoperabilidade e comunicabilidade.

AT Você pode explicar melhor o que é o ODF?
SA É um padrão para a produção de texto. Salva-se hoje em .doc, que é um formato proprietário. Quando se usa um padrão aberto, independe do software. Se deixar de existir incompatibilidade de formatos, o consumidor poderá escolher softwares legais e sem licença de propriedade.

AT E como fica a concorrência de softwares?
SA Haverá disputa de vários produtos dentro do mesmo padrão. A diferença é que o consumidor não terá mais problema ao usar um software específico para abrir os documentos na máquina. O software livre permitirá que jovens talentosos se destaquem no mercado de trabalho, criando produtos interessantes e de boa qualidade. Já os softwares proprietários, não permitem isso. O desenvolvimento é concentrado nos países de primeiro mundo, que controlam o conhecimento.

AT Em quais ramos está se expandindo o software livre?
SA O software livre está crescendo muito no ambiente de redes e eletroeletrônicos. Os empresários precisam embarcar softwares em seus produtos. Daí eles escolhem softwares mais estáveis e que permitem adequação total ao seu produto. A melhor opção são os códigos de fonte abertos, pois não exigem acordos de confidencialidade nem pagamento de royalties.

AT O governo japonês está diminuindo a dependência de plataformas da Microsoft, priorizando soluções abertas para a administração pública. O modelo pode se repetir no mundo?
SA Há uma percepção maior hoje de que a lógica do licenciamento proprietário é perversa em relação ao Estado. O software proprietário é como comprar e não levar para casa. Quando se faz uma licitação e se adquire um software livre, cria-se a possibilidade de se fazer alterações com qualidade e menor custo. Não se fica na mão de nenhuma empresa por não possuir o código-fonte.

AT Quem já aderiu ao código livre no Brasil?
SA Por motivos de segurança, o Exército Brasileiro já fez processo de migração para o software livre. Um código-fonte fechado é inseguro pelo simples fato de não se saber o que se tem dentro dele. Já o aberto permite a auditabilidade plena sobre o produto usado. O Banco do Brasil usa software livre. A Caixa Econômica Federal está migrando 25 mil máquinas. Programas do governo federal fazem o mesmo. O futuro é livre.

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