Wednesday, May 30, 2007

O MINISTRO E A INTERNET

As aulas de André Lemos têm sido um convite a reflexões não
apenas acadêmicas, mas também culturais e porque não dizer, nostálgicas.
As referências a movimentos contemporâneos, sobretudo de décadas
passadas, me levam a uma breve viagem de volta aos meus 20 anos. A
última pérola do professor foi a lembrança de uma das músicas que
marcaram minha juventude. Cérebro eletrônico, escrita pelo nosso
ministro-cantor Gilberto Gil em 1969, já previa o poder do computador na
sociedade contemporânea, mas sabiamente ressaltava a limitação desta
força (veja a letra abaixo).
A canção mostra a intimidade do ministro com a tecnologia, desde
os primórdios. Gil sempre se mostrou atento aos avanços tecnológicos e
se tornou um defensor da internet livre. Em 2006, defendeu, no
Parlamento Europeu, o direito a liberdade de acesso à rede, na ocasião
em que apresentou a Carta dos Direitos da Internet. Disse o ministro:
- Como cidadão e artista, acredito ser muito importante para nossa
geração garantir o acesso às novas ferramentas de criação que a
internet nos oferece.
Antes disso, em janeiro de 2005, o ministro participou de um
debate sobre Software Livre no Fórum Social Mundial; foi aplaudido ao
defender a liberdade digital. As palavras de Gil:
- A batalha do software livre, da Internet livre e das conexões livres
vão muito além delas, de seus interesses. É a mais importante, e também
a mais interessante, e a mais atual das batalhas políticas.
Gilberto Gil também participou de um disco livre promovido pela
Creative Commons, com a música Oslodum. "Minha visão pessoal é que a
cultura digital traz consigo uma nova idéia de propriedade
intelectual, e que esta nova cultura de compartilhamento pode e deve
informar políticas governamentais."
E pra quem é nostálgico como eu, vejam a poesia do ministro
visionário, em 1969!!

Cérebro eletrônico
letra e música: Gilberto Gil
1969

O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Quase tudo
Mas ele é mudo

O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda

Só eu posso pensar se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões de carne e osso
Hum, hum
Eu falo e ouço
Hum, hum
Eu penso e posso

Eu posso decidir se vivo ou morro
Porque
Porque sou vivo, vivo pra cachorro
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Em meu caminho inevitável para a morte

Porque sou vivo, ah, sou muito vivo
E sei
Que a morte é nosso impulso primitivo
E sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus olhos de vidro

1 comment:

Silvia Mizuno said...

A discussão de cibercultura é tão recente e já temos nostalgia. Seu post me fez lembrar de Nam Jun Paik. Vou "postar" sobre ele.