Da pressa inacabada ao vício

Na aula desta segunda feira (21) o professor André Lemos explicava a nova configuração espaço-temporal. Disse que ao contrário da idéia de sociedade de lazer, as tecnologias tomam o tempo porque são mais demandantes, geram ansiedade, a pressa inacabada. Um exemplo interessante desse fenômeno é a minha vizinha, uma senhora aposentada de pouco mais de setenta anos, hipocondríaca. Ela caminhava, fazia trabalhos domésticos, lia jornais, visitava as amigas e freqüentava os consultórios médicos pelo menos uma vez por semana.
Há dois anos ganhou um computador com acesso à Internet. As caminhadas continuaram, por recomendação médica, mas agora ela quase não tem tempo para outras atividades. Tomou gosto pela coisa quando descobriu que era possível pesquisar sobre qualquer doença em qualquer lugar do mundo. Provavelmente ela já deve ter lido a notícia do novo grupo de estudos que o Hospital das Clínicas abriu para tratar viciados em Internet. A primeira turma revelou um dado interessante. Navegar durante horas não é um vício exclusivo de jovens. Entre os integrantes estavam idosos na casa dos setenta anos. O tratamento é um projeto do Ambulatório Integrado dos Transtornos dos Impulsos do HC, que está fazendo triagem para a segunda turma. Espero que minha vizinha não esteja lá.