O virtual, o atual e a bicicleta ergométrica

Um dos pontos que André Lemos faz questão de deixar claro nas aulas é com relação à carga negativa que alguns usuáros, estudiosos ou analistas de fim de semana implicam ao ciberespaço, sétimo ponto para enterdermos a cibercultura. O espaço das redes seria responsável pelo esvaziamento das relações reais e nesse sentido muitos acabam utilizando o termo virtual, muito empregado para caracterizar o que acontece nesse ciberespaço, como oposto do real. Uma conversa num banco de praça seria real, enquanto um bate-papo no MSN seria virtual. A confusão no entendimento dessas questões é desmenbrada por Pierre Lévy, que propõe a difereciação do REAL – VIRTUAL – ATUAL. E, a partir desse entendimento, vamos ver que o uso do termo virtual para as relações no ciberespaço destoa do seu conceito.
Real pode existir em potência (virtual) ou no ato em si (atual). A realidade vai se transformando à medida em que vamos atualizando algumas potências e ignorando outras. Assim define Lévy:
"A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização. Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma 'elevação à potência' da entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade, um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objecto considerado: em vez de se definir principalmente por sua atualidade ('uma solução'), a entidade passa a encontrar sua consistência essencial num corpo problemático" (LÉVY, 1996, p.17).
Estamos sempre problematizando e solucionando, virtualizando e atualizando. E esse ciclo não acontece exclusivamente no ciberespaço. Muita gente tem ou já teve em casa uma bicicleta ergométrica. Ela existe, é real, fica estrategicamente posicionada no quarto ou na varanda. Virtualmente é um instrumento cujo objetivo é ser usado para atividade aeróbica. Potencialmente, é a solução para perder aqueles teimosos três quilinhos e ficar bem no novo vestido. Só que esse significado depende exlusivamente da atualização do dono. Nas primeiras semanas, até que ela é constante. Mas o tempo passa, a preguiça volta a dominar e a danada da bicicleta continua ali, bem real, na cara da gente.Virtualmente, continua uma aliada da boa forma. Mas quem sabe quando vai voltar a atualizá-la e dar umas pedaladas? Quem sabe no próximo verão...