Sunday, June 10, 2007

Isolados sim, desconectados nunca.

Temática amplamente abordada pelo André Lemos no módulo recém concluído é o tema desta reportagem "capturada" na web e que, com certeza, nos ajuda a consolidar os conhecimentos adquiridos e entender a diversidade existente, a quebra de paradigmas e rompimento de barreiras por esta fantástica tecnologia de comunicação, ainda, não disponível para todos.


“A internet nos ajuda a ficar mais isolados.” A frase pode parecer um tanto contraditória, já que, pela rede mundial, dá para ter contato com o planeta inteiro com poucos cliques no mouse. Mas, para o líder comunitário e escritor da aldeia indígena Krukutu, da tribo guarani, Olívio Jekupé, justamente por permitir resolver tudo a distância, a web “faz o bem” ao afastar os índios da “cultura branca”.

“Ir à cidade é prejudicial, principalmente às crianças. Não é bom ter contato com o povo lá fora. Temos de manter nossa tradição”, diz Jekupé. “Além disso, se formos enviar uma carta, e não um e-mail, por exemplo, temos de ir ao Correio. E o mais próximo fica a 30 quilômetros.”

Não, não estamos falando de uma aldeia nos confins da Amazônia. Os krukutus moram em plena cidade de São Paulo, mas bem afastados. Ficam na região de Parelheiros, a 55 quilômetros do centro. Para chegar lá, só por uma longa e apertada estradinha de terra, no meio de uma área de proteção ambiental.

Mas todo esse isolamento não quer dizer que eles estejam longe da tecnologia. Os habitantes da aldeiazinha, que tem 210 moradores em uma área de 70 hectares, possuem internet, celular, TV, DVD e até videogame.

“A tecnologia não atingiu só os brancos”, diz o vice-cacique, Sebastião Armandes, de 44 anos. “E isso não significa abandonar nossa cultura. Damos orientações, principalmente aos jovens, de que é importante manter as tradições passadas de geração para geração.”

Prova disso é a forma como os índios usam a web. Na praça principal, um prédio feito de madeira rústica e com telhado de palha abriga o Centro de Educação e Cultura Indígena (Ceci), onde há um telecentro. No local, mantido pela Prefeitura e inaugurado em 2004, há oito PCs , onde os usuários – na maioria, jovens – se comunicam por e-mail e MSN. Detalhe: na língua tupi-guarani.

CHAT EM TUPI
“Não falo bem o português”, diz o morador Karaí de Oliveira, de 23 anos. “E costumo conversar pela internet com amigos de outras aldeias e parentes distantes. Por isso, acho mais fácil escrever em tupi mesmo.”

Essa facilidade de contato com outros índios, inclusive, está permitindo que os krukutus se comuniquem com outras aldeias do País todo. Segundo o coordenador geral do Ceci, Marcos Tupã, de 37 anos, esse estreitamento na relação indígena ajuda na luta por direitos.

“Ainda são poucas as tribos com internet”, diz. “Mas, como as aldeias são em lugares afastados, a web permite conversar, por e-mail, com lideranças políticas sobre saúde, educação...”

Outro benefício que a rede trouxe foi o maior acesso à informação. O estudante Ivanildo da Silva, de 21 anos, por exemplo, usa a web em trabalhos escolares. “É muito mais fácil.”

Já a estudante Fátima Silva, de 16 anos, vê na web uma porta para o mundo. “Adoro pesquisar sobre animais, plantas e astronomia. Se não fosse a internet, nunca teria acesso. Nossa cultura não tem esse tipo de informação. E já sei bastante coisa. Por exemplo, você sabia que as estrelinhas do céu são planetas?”, pergunta ao repórter.

Há ainda quem, literalmente,tenha ganho o mundo com a internet. O escritor Olívio Jekupé, de 41 anos, foi parar na Itália por causa da rede mundial. “Uma editora de lá leu sobre mim na web e me convidou para publicar um livro”, diz ele, que acaba de voltar da Europa, onde lançou o livro Índio Grazie. “Tudo foi feito pela internet: mandei os textos, conversei com eles via Skype...”

Outra forma de comunicação digital que se dissemina na aldeia é o telefone celular. No local, há só dois telefones fixos: um no Ceci e outro, um orelhão, na administração dos krukutus, uma casa de concreto.

Por causa disso, a professora Francisca da Silva, de 26 anos, tem o seu celular. “O meu marido também. Quando levo meus filhos para o hospital, por exemplo, falo com ele rapidamente. E ele me liga também.”

O telefone de Francisca é até bem moderninho. Toca música e tudo. Por isso, ela sai andando pela aldeia com fones no ouvido. “Gosto de forró, das bandas Bonde do Forró e Calypso. Baixo da web e coloco no celular.”

O artesão Tupã de Oliveira, de 21 anos, é outro que não larga o celular. “Vou ao shopping na cidade para comprar roupas”, diz ele, que vestia bermuda, camiseta e boné de surfe. “Minha mãe se preocupa comigo e me liga quando saio da aldeia.”

Seja no telecentro ou nos dois consoles de videogame da aldeia, nas horas vagas, o que a garotada mais gosta é de ficar em tiroteios, corridas e lutas virtuais. No telecentro, Edson da Silva, de 14 anos, por exemplo, joga Street Fighter. Maurílio dos Santos, de 14 anos, futebol. E Mônica Vitorino, de 14 anos, se acaba no Super Mario.

Mas há quem prefira o console. O morador Nilson da Silva, de 27 anos, comprou há um mês um Playstation usado por R$ 400 para os irmãos e primos. Agora, sua casa, de madeira e com chão de terra, fica lotada de moleques, que passam o dia com os joysticks nas mãos.

O estudante Gilmar Rodrigues, de 13 anos, é um deles. “Adoro Street Fighter”, diz. “Antes, ia em uma lan house da cidade. Para chegar até lá, andava 30 minutos de bicicleta.”

O dono do console, Silva, nem se incomoda de não poder jogar, já que o videogame está sempre ocupado. “Deixa os meninos”, diz. “É a modernidade, o que os jovens gostam hoje. E os índios estão acompanhando isso. É bom. E pensar que antes usávamos velas de cera para iluminação porque nem energia elétrica tínhamos...”

PC Andrade

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