Saturday, June 9, 2007

Wireless como mudança de hábito


Sem uma política específica para universalização do acesso sem fio, como em Belo Horizonte, há em Salvador a tímida ebulição do desplugamento, como se fosse uma tendência levada em banho-maria. Cada vez mais pontos se revelam como facilitadores, o que reconfigura a relação do habitante com a urbe. Alguns estão oficialmente etiquetados como “fornecedores de acesso” sem fio, com aquelas placas Wi Fi em fundo preto que fazem a alegria dos donos de laptops. São praças de alimentação dos shoppings, ou saguões largos do aeroporto, alguns restaurantes, certos cafés adoçados com o requinte.

Mas há também os pontos descobertos casualmente, como se fossem prêmios de uma gincana digital para encontrar pistas de conexões. Enquanto o grupo de pesquisa de André Lemos não desenha esse atlas do acesso universalizado – produzindo um guia soteropolitano da comunicação em mobilidade –, as descobertas são feitas como se tateássemos no escuro atrás do interruptor. Mesmo assim, Salvador parece mais coberta pelo edredom invisível do wireless, sem precisar de iniciativas oficiais para fomentar isso.

O estacionamento do campus de Ondina da Ufba é dos meus preferidos trampolins para a infovia. Perto das agências do Banco Real e do Banco do Brasil, pelo menos três redes configuradas para acesso aberto podem ser regularmente encontradas. Naquele local, todas apresentam nível de sinal muito baixo porque existem para atender aos ocupantes dos anexos vizinhos e não ao bisbilhoteiro que pára o carro nas redondezas.

Isso remete a outra discussão em sala de aula que é o movimento internacional para que cada vez mais empresas liberem suas conexões wireless fora dos limites de suas sedes, além dos muros das corporações, beneficiando o usuário comum, o transeunte fisgado pelo anzol do ciberespaço. No Brasil, o projeto Cidades Digitais começa a sair do papel.

Na própria empresa onde trabalho, a rede dos terminais comuns, conectada pelos fios azuis, apresenta restrições de acesso a alguns domínios. Já a rede sem fio, que não é divulgada e foi detectada silenciosamente pelo laptop, não impõe os mesmos limites. Há, portanto, uma diferença de possibilidades: a casta wireless tem horizontes mais amplos do que a “massa desktop”.

Dotar uma cidade de dispositivos para conexão irrestrita é também modificar radicalmente o conceito de território. E isso sem precisar construir prédios, pavimentar novas avenidas, compor canteiros de obras, abrir licitação para empreiteiras. Meu escritório pode ser no banco da praça, em última análise, posso ter o sinal verde para um negócio durante o intervalo em que o semáforo da avenida está fechado. Eu me aproprio de ambientes que não seriam comuns a minha experiência. É também uma questão de dominar novas funções para velhos locais e, já que é uma forma de domínio, também configura mais liberdade.

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