Sunday, June 10, 2007

Nininho de Maré e as tramas da cibercultura


A música de Nininho de Maré está disponível em todo o seu lirismo de seresteiro brega, herdeiro confesso de Sandro Lúcio e Reginaldo Rossi, no site Trama Virtual e isso, por mais insignificante que pareça, interessa a todos. O suingue de Maicon Brasileiro, um compositor que diz ter influências de Daniela Mercury, Caetano Veloso, Djavan, Marisa Monte e Carlinhos Brown, mas escreve “a chapa tá quente, balança seu coração”, também.

Ambos são baianos e continuariam tão distantes do meu e do seu espaço-tempo como se fossem eslovacos ou astecas. Com mais outros 40 mil artistas independentes, colocaram seus arquivos sonoros à disposição em um mesmo status que a banda de punk rock Woolloongabbas, de Goiânia, ou o samba jazz de Miguelito Instrumental, do Mato Grosso do Sul.

Najara já escreveu num post sobre essa emersão de artistas propiciada pela Trama. Mas o que me chama a atenção é o manifesto dos criadores do site. Um dos trechos: “Música é o centro do nosso universo, nossa prioridade, inspiração e meio de vida”. Por achar que “a tecnologia existe para servir ao artista” e não o inverso, eles aproveitam o suporte “como facilitador da prospecção artística, da criação, produção, interação, promoção e distribuição de música”.

Muito provavelmente, os mentores desse portal para os excluídos das grandes gravadoras não pensam que o hit Que Sidane Que Zidane, pérola do humor involuntário de Nininho do Marechal Rondon, não seja uma obra de arte digna de ficar nos arquivos de áudio da Biblioteca do Congresso Americano. Só que está garantido o direito a ele de conseguir seus próprios fãs ou até de angariar mais críticos, ouvintes que achem a música ruim como o corno, mas audível desde que acompanhada de alguma cachaça ordinária.

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