Sunday, June 10, 2007

Preservação de patrimônio digital


Acabamos de concluir mais um módulo, facilitado pela metodologia adotada pelo Prof. André Lemos, e "nosso blog" poderá ou não ser descontinuado. E aí precisamos refletir sobre a imensidão de informações disponíveis na WEB, hoje, e como preservá-las para uso futuro face a obsolecência de tecnologias e/ou ao surgimento de novas informações. Eis um "problema" que, de alguma forma, precisa ser pensado. Abaixo uma reportagem sobre esta questão.

Jim Barksdale
Rancine Berman
THE WASHINGTON POST

É consenso geral que a destruição da antiga Biblioteca da Alexandria no Egito foi uma das mais devastadoras perdas do conhecimento de toda a civilização. Hoje, porém, as informações digitais que regem nosso mundo e acionam nossa economia estão de muitas formas mais suscetíveis à perda que os papiros e pergaminhos da Alexandria.Calcula-se que 44% dos sites na web que existiam em 1998 desapareceram sem deixar vestígios em apenas um ano. O tempo de vida médio de um site na web é de somente 44 a 75 dias. Os aparelhos que informam nossas vidas – telefones celulares, computadores, iPods, DVDs, cartões de memória – estão cheios de conteúdo digital. No entanto, a longevidade dessas mídias é lamentavelmente curta, Dados armazenados em disco flexíveis de 5 1/4 de polegada já podem ter sido perdidos para sempre.

Este formato, tão disseminado há somente uma década, já não pode ser lido pelos computadores da última geração. A troca de formatos de arquivo e de hardware, vírus nos computadores ou falência da unidade de disco rígido podem fazer com que anos de criatividade se tornem inacessíveis.

A contraposição, a Biblioteca do Congresso norte-americano, tem sob seus cuidados milhões de obras impressas, algumas em pedra ou pele de animais que têm sobrevivido há séculos. Em 2000, os problemas inerentes à preservação digital levaram o Congresso a reservar uma dotação de US$ 100 milhões para a Biblioteca do Congresso para gerir o NDIIPP (sigla para National Digital Information Infrastructure and Preservation Program, ou Programa Nacional de Infra-estrutura e Preservação da Informação Digital, em inglês), uma crescente parceria entre 67 organizações encarregadas de preservar e tornar acessíveis informações ¨nascidas digitais” para a atual e futuras gerações.

KATRINA E ELEIÇÕES
Alguns dos programas cruciais financiados pelo NDIIPP incluem o arquivamento de importantes sites na web, tais como aqueles cobrindo as eleições federais norte-americanas e o furacão Katrina; dados referentes à saúde pública, geoespaciais ou mapas; transmissões da televisão pública e de noticiário internacional; e outros conteúdos vitais nascidos digitais.

Infelizmente, o programa está ameaçado. Em fevereiro, o Congresso norte-americano aprovou e o presidente assinou uma lei cancelando US$ 47 milhões do fundo aprovado para o programa. Isso prejudica um adicional de US$ 37 milhões em contrapartida, fundos não federais nos quais os parceiros contribuiriam como doações em espécie.

Alguns dos projetos que seriam financiados incluem a preservação de importantes registros governamentais na esfera estatal norte-americana, tais como dados do Legislativo e registros de tribunais.

Um outro novo projeto que corre risco é o Preserving Creative America (Preservando a América Criativa), uma iniciativa em conjunto com produtores comerciais de conteúdo criativo tais como filmes, música, fotografia e outras formas de arte pictórica digitais e até jogos eletrônicos.

DADOS PERDIDOS
Já vimos o que acontece quando dados públicos valiosos são inadequadamente conservados, perdidos ou ficam não disponíveis quando necessários.

Por exemplo, os dados originais, brutos, do censo de 1960 foram armazenados em computador UNIVAC estado-de-arte. Quando o departamento de censo americano entregou os dados para o National Archives em meados da década de 1970, os computadores UNIVAC há muito estavam obsoletos. Boa parte das informações acabou sendo recuperada, mas a um custo enorme.

Os dados brutos das primeiras sondas por satélite, incluindo a missão Viking para Marte, anterior às imagens do Landsat da Terra e às imagens em alta resolução da Lua, foram perdidas por motivos conhecidos.

As estimativas atuais são que, em 2006 foram gerados no mundo 161 trilhões de bilhões de bytes de dados digitais, o equivalente a 12 pilhas de livros indo da Terra ao Sol. Em apenas 15 minutos, o mundo produz uma quantidade de dados igual a todas as informações contidas na Biblioteca do Congresso norte-americano.

FORA DA REALIDADE
Embora seja fora da realidade achar que podemos preservar todos os dados produzidos somente em formato digital, o NDIIPP reuniu especialistas de primeira linha para ajudá-lo a decidir quais os conteúdos em situação de risco são mais essenciais e como agir para preservá-los.

A preservação responsável de nossos dados digitais mais valiosos requer respostas a perguntas-chave: Que dados devemos manter e como devemos mantê-los? Como garantir que poderemos acessá-los dentro de cinco, cem ou mil anos? E quem pagará por isso?

A importância de desenvolver planos sensatos para preservar nosso patrimônio cultural digital não pode ser diminuída. Não podemos salvar tudo, nem queremos. É também fundamental que concordemos sobre a forma de salvar esses dados.

Nos próximos 100 anos, passaremos por dezenas de gerações de computadores e armazenagens de mídia e nossos dados digitais precisarão ser transferidos de uma geração para a próxima e por alguém em quem confiamos.

A NDIIPP oferece um bom começo e o Congresso americano tem uma oportunidade para recuperar os US$ 21,5 milhões solicitados pela Biblioteca do Congresso para continuar o programa e manter as parcerias necessárias para cumprir a tarefa crucial de preservar importantes informações nascidas digitais dos Estados Unidos.

Se eles forem perdidos para sempre, seria uma vergonha nacional e global, como foi o caso do patrimônio cultural da Alexandria...........

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