Os sistemas de publicação colaborativa, onde os usuários exercem o papel de gatewatchers e, em última instância, editores das notícias, parecem mesmo o caminho do chamado jornalismo cidadão. Os sites cuja a hierarquização do conteúdo é definida por parâmetros de aprovação dos leitores geralmente são brindados como o apogeu na produção de conteúdo livre, tanto pela liberdade de reprodução como pelo estímulo ao livre-pensar, abrindo espaço para o contraditório, longe dos grilhões da censura. Os precursores como Slashdot, Digg estabeleceram a idéia de que a regulação do noticiário deve ser feita pelos usuários, convidando-os a participar mais do que audiência passiva, até chegar ao nível de mediadores.
No Brasil, o Overmundo é inspirado nestes modelos e passa a ser celebrado pela forma democrática de publicação e de participação. Os overpontos, que determinam a reputação dos usuários e de suas colaborações, são os sufrágios para idéias, ideologias, textos e obras artísticas. Os overpontos representam a gradação entre aprovação ou rejeição, estímulo ou descaso ao que está sendo lido. Apesar de estar num suporte mais instantâneo, em intrincados códigos de cruzamento entre tempo de publicação e número de votos, os overpontos já existem fora da sociedade de informação. O que dizer de um milhão de exemplares da revista Veja impressos semanalmente? São respostas para a interação do público. O número de assinantes de Veja, a quantidade de cartas que chegam semanalmente à redação, são os overpontos pré-históricos.
Escrever isso não é uma forma de diminuir o premiado projeto Overmundo. É a maneira de dizer que, por mais que pareçam inovadoras, as iniciativas da internet são apropriações de demandas antigas, emuladas para o novo suporte da multimídia, da metamáquina. O overponto é a atualização do virtual desejo de bater palmas para a atriz, de pedir bis a um violonista ou simplesmente dizer para o polemista no mesmo instante em que se termina o texto: “velho, você escreve bem pra caramba”.
É saudável odiar Diogo Mainardi, é de bom tom condenar suas raivosas, tortas e sectárias diatribes em uma roda de amigos universitários de classe média. Mesmo assim, ele continua como campeão de cartas da Veja, críticas ou, raramente, positivas. Certamente, odiado ou não, Diogo Mainardi permaneceria por muito tempo no topo das listas do Overmundo. Porque seria justamente uma forma de transformar em ação o imediato sentimento, de asco ou de admiração, que uma crônica sua suscita.
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