Não posso deixar de compartilhar com vocês as delícias tão pouco anunciadas do meio acadêmico... Vejam que maravilha um encontro promovido pela FACOM pode fazer, além, é claro, de promover as discussões ideológicas. Quem foi à festa e não caiu na esbórnia que atire a primeira pedra....
Matéria da Tarde On Line domingo, 3 de junho.
O desbunde dos intelectuais
Lucas Esteves
Depois de uma seríssima jornada de palestras e debates na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Ufba) durante toda a semana, dezenas de intelectuais julgaram que talvez fosse melhor fugir do ranço acadêmico em uma noite de sexta-feira "miseravona" na Barra. Com música safada, muita bebida e clima de loucura, o pessoal de óculos de aro redondo e tênis All-Star caiu no desbunde e saiu do World Bar de alma lavada.
A festa, que marcou o encerramento do I Encontro de Mídia e Musica Popular Massiva, ocorrido na Facom, foi animada pela banda mais farofeira da cidade, Os Mizeravão. Foi o absoluto contraponto com a seriedade do evento intelectual que acabara de terminar, já que o baterista da banda que mistura Roberto Carlos, Trem da Alegria e outras tosqueiras em versões pesadas, tem como baterista o respeitável Professor Doutor Jéder Janotti, coordenador do Grupo de Pesquisa Mídia e Música Popular Massiva da Pós-graduação da instituição.
No local, o momento foi de trazer de volta à cena rocker conceitos um tanto esquecidos: que o rock n' roll foi feito para ser dançado e que precisa de mulheres na platéia para se chamar de "festa". Portanto, nada de cabeludos suados e sinais dos chifres. No lugar deles, olhares libidinosos entre meninas animadíssimas e homens incrédulos de sua sorte, que mais tarde se tornariam diversos casais se atracando vorazmente no meio do bar.
"A idéia, na verdade, não é ser show, é fazer uma festa mesmo", analisa o cantor Leonardo Leão, conhecido headbanger de Salvador e que atualmente desfila sua voz rasgada com uma lata de cerveja em uma mão e o cigarro na outra. "A gente não faz um show pras pessoas sentarem e assistirem. É para interagir. Se não dançarem, não tem graça". Leão sabe do que está falando, pois por anos liderou bandas de metal, estilo no qual a desenvoltura dos quadris definitivamente não é uma qualidade.
Isto não quer dizer, no entanto, que a vertente criativa dos músicos esteja sepultada. "A banda aconteceu em um momento em que, coincidentemente, os quatro [integrantes] estavam sem banda. Então o que deveria ser uma brincadeira acabou dando tão certo que estamos tocando até hoje. mas definitivamente nenhum de nós vai deixar de fazer projetos com composições próprias por causa dos Mizeravão", explica o doutor-baterista-cabeludo Jéder.
Enquanto os projetos não vêm, o melhor é mergulhar no carpe noctem. Ou melhor, cair de boca na cerveja, já que as latas se acumulavam no diminuto palco e disputavam espaço com os músicos. Os integrantes garantem que a banda toca apenas semi-bêbada, já que alguém precisa se preocupar com que o som saia com qualidade. Mas a certa altura ninguém mais se importa com isso. Homens e mulheres são um corpo só. E rola até princípio de strip-tease, com groupie vestida com sutiã de renda preta quase transparente. Risos nervosos das meninas tímidas de trás. Os cuecas, óbvio, babaram e quiseram arrancar a roupa íntima da ébria moça de belos cachos castanhos, que tornou a abotoar a camisa depois da ousadia californiana.
O maior homenageado da noite é o "capenga". Ninguém menos que o Rei Roberto Carlos, que ganha cinco versões e revela um público que conhece de cor letras de canções quase desconhecidas do seu repertório como "os Sete Cabeludos". Como se não bastasse, "Não se Reprima", dos Menudos, o tema de He-Man do Trem da Alegria e o dueto Cid Guerreiro-Xuxa "Eu Fui Dar Mamãe" foram cantados a plenos pulmões e com coreografias repetidas por todos. O jornalista Cláudio Moreira, 38 anos, tentou explicar porque o fenômeno acontece durante o show dos Mizeravão.
"A banda serve para trazer uma desconstrução a essa idéia de rock e música séria. Aqui tem muita gente que jamais assumiria que gosta e ouve em casa certas coisas que eles tocam, mas este clima de esbórnia ajuda essa gente a se libertar das suas próprias amarras", filosofa. Depois do discurso eloquente, toma um porre e se joga do palco para cair de cara no chão.
Jéder Janotti concorda plenamente com a opinião do amigo. Para ele, a desconstrução dos gêneros musicais e o questionamento proposto durante o evento acadêmico toma forma final na figura da banda em cima do palco. A bênção final à doideira mizeravona foi a presença do PhD canadense Will Straw, ex-presidente da Associação Canadense de Comunicações e palestrante convidado do evento, que subiu ao palco para cantar "I Will Survive". Não se virou bem com o microfone, mas foi gostoso até o chão.
Sunday, June 3, 2007
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1 comment:
Isso é que é descontração!
Participei das palestras, dicussões, mas, o glacê do bolo que era a festinha, não deu para eu ir. Mas, soube dos comentários.
Fiquei curiosa para ver a performance dos mestres......
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