“Temos que levar os computadores até as escolas públicas de todo o Brasil, até as cidades mais pobres. Hoje, o que vemos é a exclusão digital: alunos com melhores condições financeiras estudam nas melhores escolas e contam com o auxílio do computador em seu aprendizado, o que os torna mais aptos a enfrentarem a vida profissional”. Essas foram as palavras do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) eleito no último dia 25 de maio para presidir a Subcomissão de Serviços de Informática do Senado, criada no último mês de março, que tem como prioridade promover a inclusão digital dos brasileiros (veja mais na matéria Senado: inclusão é prioridade para comissão de informática).
A declaração do senador foi dada três dias depois da divulgação do relatório ‘Global Information Society Watch’ (Monitor da Sociedade Global de Informação), preparado pela Association for Progressive Communication (Associação para a Comunicação Progressiva) e pelo Instituto do Terceiro Mundo, que critica a forma como as tecnologias de informação e comunicação são distribuídas no Brasil. De acordo com o relatório, o governo brasileiro precisa ser mais ativo na instalação de infra-estrutura em áreas mais isoladas e garantir o acesso à tecnologia de populações pobres, priorizando iniciativas de inclusão digital tanto nas áreas urbanas quanto nas rurais. Mais informações sobre o estudo podem ser encontradas em notícia divulgada pela BBC Brasil: Relatório critica distribuição de tecnologia digital no Brasil.
Preocupar-se apenas com questões de infra-estrutura, como oferecer computador à população pobre, no entanto, é pensar a inclusão digital apenas sob o ponto de vista técnico. A maioria dos projetos denominados de ‘inclusão digital’ em Salvador, executados por instituições governamentais, empresas privadas e universidades, por exemplo, conforme apontado em pesquisa do mestrando da Facom/Ufba, Leonardo Costa, só se preocupa com a dimensão técnica da inclusão, deixando em segundo plano o desenvolvimento do conhecimento. “Esses projetos proporcionam o aprendizado no uso de hardwares e softwares e buscam dar condições de acesso à Internet, com o manuseio dos programas básicos de navegação”, explica Leonardo Costa em sua pesquisa ‘Inclusão digital: uma alternativa para o social?’, salientando que eles utilizam um conceito de inclusão que considera apenas a dimensão tecnológica, onde não se põe em questão os capitais cognitivos, sociais e culturais. “Incluir é ter capacidade de livre apropriação dos meios. Trata-se de criar condições para o desenvolvimento de um pensamento crítico, autônomo e criativo em relação às novas tecnologias de comunicação e informação”, conclui o mestrando.
A inclusão digital, desta forma, deve ser um projeto mais amplo: de educação. Não é tão somente o acesso ao computador no aprendizado que tornará os alunos brasileiros “mais aptos a enfrentarem a vida profissional”, como declarou o senador Eduardo Azeredo. Para uma verdadeira inclusão, é preciso uma reforma mais ampla (e mais difícil), que consiste na promoção de melhorias no campo do próprio sistema de educação das nossas escolas públicas. Afinal, caro senador, alunos com melhores condições financeiras estudam nas melhores escolas e têm acesso não apenas ao computador, mas a uma melhor educação.
Saturday, June 2, 2007
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