Ok, já sabemos que a internet mudou a forma como vivemos, trabalhamos, nos divertimos e nos comunicamos. A ficha já caiu em relação ao que a WEB é capaz de fazer quando se trata de diminuir distancias e produzir notícias que cruzam o espaço em questão de segundos. Mas o que isso representa efetivamente para a humanidade a longo prazo? As transformações são contínuas, as possibilidades infinitas, portanto cabe questionar quais serão os impactos reais nas relações sociais, culturas diversas, qualidade de vida e desenvolvimento da raça humana.
Para começar acho importante deixar claro que a complexidade do mundo em termos culturais talvez não permita que uma única ferramenta promova uma revolução global, na qual todos os habitantes do planeta vivam e pensem de modo semelhante. Basta lembrar que, não fossem os atentados de 11 de setembro, países como o Afeganistão ainda estariam vivendo exatamente como se vivia na época do profeta Maomé (essa era a meta do regime Talibã), onde toda e qualquer manifestação de progresso deveria ser desprezada e nada além do Alcorão deveria ser lido. O professor André tentou nos mostrar em sala as cenas em que uma mulher é morta por apedrejamento num país do Oriente Médio. Um ato totalmente repudiado na cultura ocidental é absolutamente comum e socialmente aceito na cultura islâmica. O professor também discutiu a respeito de uma tendência para a ocidentalização do mundo, mas citou exemplos de regiões do planeta que seguem caminhos diferentes. Para se ter uma idéia, a jornalista norueguesa Asne Seierstad cita em seu livro ‘O Livreiro de Cabul’ que a reforma agrária afegã fracassou, pois os beneficiados com as terras consideraram que seria anti-islâmico plantar em uma propriedade que não lhes pertencia. Fatos como estes ilustram o imenso abismo sociocultural entre os povos, sem falar nas questões políticas e econômicas que envolvem a diplomacia internacional (ou falta dela).
No livro “Google – A história do negócio de mídia e tecnologia de maior sucesso de nossos tempos” os jornalistas David Vise e Mark Malseed apresentam os projetos da empresa Google que envolvem desde a transposição para a rede de todos os livros das bibliotecas das principais universidades americanas até a ousada proposta de ser a base para importantes avanços nas áreas da biologia e da genética. O objetivo é colocar-se como um grande banco de dados para simulações de pesquisas sobre o material genético humano e até mesmo sobre fontes alternativas de energia. Iniciativas assim nos remetem novamente ao imenso campo de possibilidades da internet e como ela representa uma evolução coletiva, independente da nacionalidade. Existe a sensação de que através da rede é possível se criar qualquer universo, pois dos computadores surgem soluções para problemas que nem conhecíamos e, de repente, não conseguimos mais imaginar o mundo sem um site de busca ou um celular.
Não sei se podemos esperar que a cibercultura seja a base para a solução das contradições mundiais. Mesmo com todo o poder demonstrado pela internet, acho que seria um pensamento ingênuo. A revolução industrial e o comunismo, além de outras revoluções tecnológicas já foram candidatos a heróis da humanidade e, no entanto, guerras, crimes e atentados ainda se fazem presentes nos noticiários mundo afora. Na verdade, todo recurso tecnológico se molda de acordo com os pensamentos e objetivos de quem o utiliza, ou seja, a tecnologia está disponível para o bem e para o mal. Com a internet não é diferente.
Mesmo no Brasil e EUA, países onde existe certa tolerância cultural, questões como racismo ainda estão presentes no seio da sociedade, através de sutis mecanismos de segregação que mantém cada um no seu “devido” lugar. Recentemente, a publicação de um trabalho que se posiciona contra a política de cotas para negros no Brasil gerou uma enxurrada de manifestações na internet, algumas delas pregando a violência física contra os autores.
O choque de culturas já está ocorrendo no mundo. De um lado o peso da globalização e das corporações capitalistas que têm na cibercultura um forte instrumento do seu progresso. Do outro, povos que lutam para preservar suas tradições, por mais esdrúxulas que possam parecer aos olhos ocidentais, e que utilizam o terrorismo para se manifestar e se estabelecer. Enfim, o mundo está numa nova encruzilhada onde mais uma vez se vê obrigado a confrontar os seus antagonismos. Neste caso, esperamos ingenuamente que a internet seja antes de tudo, uma ferramenta de tolerância e entendimento mútuo, e não de subjugação cultural.
Tuesday, June 5, 2007
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