Jornalismo literário - Uma casa, um mês.

Silvia Mizuno

A sala não tem graça nenhuma. A saleta é inóspita. Tem um tapete preto em cima do piso de porcelanato claro com manchas bejes imitando mármore. Três degraus a frente tem aquela coisa pequena. A sala de estar, lá ele, poque eu não vou "estar" nesta sala mesmo. Pequena, retangular, móveis discretos em tons terra, chega a ser escura. Mas é só passar pela porta de blindex que surge a luz. Sim, a luz. Nunca vi lugar tão belamente iluminado pela natureza.

A parte coberta faz um "L" gracioso (existe "L" gracioso?) e termina em uma churrasqueira daquelas para cinquenta convidados bem servidos. As poltronas giratórias de vime espalhadas por toda a varanda, praticamente te abraçam. Dá preguiça de levantar. Ainda tem uma mesinha combinando, um luxo. Na área também cabem duas mesas, uma redonda com tampo de vidro e seis cadeiras (de braço!), e outra retangular, de madeira pesada, escura, estilo casa de fazenda. Tudo rodeado plantas e flores que nem me arrisco a dizer os nomes. O jardineiro até tentou me explicar, pacientemente, mas eu sou péssima em termos de flora nativa. Já a piscina, uma delícia. Ao contrário das linhas retas da varanda ela tem a forma de um feijão, não do feijão fradinho, pequenininho, mas de um feijão sarado, curvilíneo (existe feijão curvilíneo?). Dá pra nadar de costas, de peito, de bóia e até pelado, porque não dá pra ver da casa do vizinho. É o máximo nadar pelado.

Pena que a casa não é minha. Não tem importância. Sou hóspede até o final de julho. Até lá prometo que aprenderei o nome de todas as plantinhas. Isso enquanto tomo uns drinques na cadeira giratória, vendo o brilho do sol refletindo na água morna em forma de feijão... um espetáculo!