Wednesday, July 11, 2007

Jornalismo literário - Uma Solineuza para um Caco Antibes

André Martins

"Piririn piririn piririn alguém ligou pra mim quem é?" Ou um outro ringtone em ritmo de funk: "toca telefone, toca toca telefone, o telefone tá tocando e você não tá escutando". Bom, não vou falar sobre funk nem os sem número de "crazytones", como são chamados os toques de celular em mp3 que falam, gritam, latem, relixam e tantas outras infinidades. Não vou falar mal de quem os têm em seus celulares porque eu mesmo também tenho um "crazytone". O idéia é apenas para puxar o assunto sobre celular e não cair no velho clichê de que milhares de brasileiros utilizam o sistema de telefonia móvel.

Arthur estava passeando pelo shopping, em um daqueles típicos fins de semana em que seus amigos estão "morgados" e não estão afim de tomar umas em um barzinho. Ele resolve, não somente comer um daqueles lanches hipercalóricos da MC Donnald´s como é de costume nesses fins de semana entediantes e pegar uma sessão de cinema, comprar uma capa para o celular de sua namorada. Arthur, moreno estilo surfista, bermudão, camiseta e um tênis no pé, entra de loja em loja, seu interesse é aquelas capinhas de celular "de meia". Sua namorada Ariele, morena dos olhos verdes, e nem um pouco patricinha para não dizer o contrário, queria muito uma capa lilás, sua cor predileta. Ela já tinha uma infinidade, quase uma para cada ocasião. E vai Arthur bater perna atrás da tal capa lilás.

- Moça, por favor, tem daquelas capinhas de meia para celular?

- É para você?

- Não né? Para minha namorada!

- Ah! - a vendedora sem graça mostra alguns modelos - temos esses aqui.

- Hum.. ok! obrigado

Entra em loja, sai de loja, entra em mais uma loja e sai de outra e mais outra, nenhuma capa o agradava, mas faltavam ainda duas lojas. O rapaz já cansado e mal-humorado, típico da personalidade de Arthur por tudo se irritar, àquela altura já odiava sua namorada que o fizera perder aquele tempo todo atrás de uma capa lilás. "Não podia ser rosa, preta, vermelha, laranja, furta-cor? Tinha que ser lilás? Somente lilás? P****!". Entra na loja já de cara fechada, mas simula um sorriso singelo e falso para não assustar a vendedora e dirige-se ao bancão. Lá estava a vendedora e mais dois clientes e ele esperou pacientemente pela sua vez de ser atendido.

- Posso ajudar?, disse a vendedora gorducha atrás do balcão

- Eu gostaria de ver capa para celular...

- Temos esses modelos, interropeu a gordinha que o "pretinho básico" não a emagrecia em nada. Pelo contrário, a qualquer momento ela poderia explodir.

- Não! Não! Eu queria ver aquelas capas de meia.

- Ah! sim! Estão aqui. E para você, não quer olhar nada?

- Não obrigado!

Eis que o outro cliente que ela ainda atendia resolveu se intrometer na conversa.

- Olha essa capa que legal!

- Não gosto de capa em celular! - respondeu Arthur curto e grosso.

- Mas ela protege o celular e você pendura na calça assim oh!

- Tá! - Arthur já estava impaciente - mas eu não (com bastante ênfase) gosto de capa em celular - e continuou olhar as capas de meia

- Mas olha essa que bacana, você vai gostar, ela gira oh!

Arthur não respondeu nada. Se Caco Antibes (antigo personagem de Miguel Falabela em Sai de Baixo) tivesse ali naquela hora com certeza esculhambaria o humilde cliente e concluia com o famoso "odeio pobre" ou "pobre adora achar que está arrasando, que está na moda, mas continua brega e pobre". Arthur, a ponto de explodir, mas se controlando, agradece a atenção da vendedora e sai da loja resmungando consigo: "capa na cintura é brega! É coisa de pobre! Até parece que eu vou usar isso, oh povo mó pilheiro, mó jojolão, paraíba".

E vai para a última loja, em sua última investida, a procura da capa de meia lilás para sua namorada. E mais uma vez a boa e velha pergunta:

- Tem capa de meia para celular?

3 comments:

Leandro Colling said...

Bom texto, leva o leitor na ação. O assunto é que não é interessante.

Najara Lima said...

Eu gostei do texto, tem descrição, narração, diálogo, bem literário. Apesar do assunto realmente não instigar muito a leitura, eu fui embalada pelo estilo solto do texto e li até o final sem sentir.

Giselma Barbosa said...

oiii Dekoo, lendo o texto parecia que eu estava junto com vocês..imaginei toda a situação...Ressuscitou Caco Antibes hein..que pobreza..risos..
Ah!!Você eh triste viu..como é que fala que o pretinho básico não emagreceu em nada a pobre moça..Coitadinha..
Bjãoo
Gi