Tuesday, July 10, 2007

Jornalismo literário - Pagamentos cruéis

Line Barnabé

Segunda-feira, 9 de julho. É chegado o dia de enfrentar mais um tumulto nas Faculdades Jorge Amado. Isso para regularizar a situação financeira da minha irmã. Não estou indo por que sou boazinha, mas sim porque meu querido pai diz: "Ô minha filha, vai resolver o pagamento da faculdade". Ressaltando minha capacidade de resolver problemas, acrescenta: "Você sabe se virar melhor que ela. Você é mais safa". Em outras palavras, ele manda que eu vá mesmo e acabou. Então, na minha total resignação, acabo fazendo o que ele quer.

Minha irmã, uma criatura de 21 anos, estudante de Letras com Espanhol, cabelos loiros e nos ombros, nada a ver comigo, e corpo de modelo de passarela (magrinha...), acha que vai se safar de ir comigo enfrentar a longa fila no banco. Nada disso, se tenho que ir, ela vai também!
Partimos para o ponto de ônibus e lá se vai 20 minutos e nada do Estação Mussurunga passar. Mais 10 minutos e eis que chega o buzú. De longe já dava para ver tudo escuro e na medida em que ele se aproximava tinha mais certeza de que estava realmente cheio. Pela cabeça de Juliana já via a frase: Não vou nesse nem morta! Como se tivesse sido combinado, deixamos ele passar e esperamos mais um pouco na esperança de vir outro. E veio bem rapidinho, Deus ouviu minhas preces!

Chegando na JA, nos separamos. Ela pegou o elevador até o 7° andar, para o financeiro, e eu fui para a fila do caixa eletrônico e, nesse momento, lembrei de uma frase que minha vó sempre diz: Eu me vi e me desejei! Nunca soube muito o que queria realmente dizer essa frase, até esse momento, pois na boca do caixa estavam duas mulheres batendo cabeça para fazer um pagamento. Elas demoravam tanto de realizar a operação que o tempo expirava. E a cada tentativa, mais muxoxus eram dados e escutados. Só eu estava munida de cara feia, muxoxo e batidas nervosas do pé no chão. Uma era loira e a outra uma senhora, as duas juntas, não é possível que não estivessem acertando, é...tive que dá meio desconto, porque um inteiro já estava demais. Estava com pressa, poxa!

Finalmente retirei o dim dim e fui para a fila do banco. Cheguei a arregalar os olhos quando me deparei com o caracol. Enorme...cheio de gente. Respirei fundo e pensei forte em meu amado pai. Acho que ele está me fazendo pagar por todas as traquinagens que aprontei quando era criança. Tudo bem, ele pode fazer isso. Tirei meu celular e minha chave da bolsa e entrei com tudo na porta giratória. Respirei fundo e esperei Juju chegar. Todos na fila mantinham os olhos voltados para o chão (achei que estivesse sujo), ou contando o dinheiro para o pagamento do boleto. "Poxa...todo esse dinheiro para a faculdade... é uma droga mesmo", estava escrito na testa de uma mulher que estava ao meu lado na fila. Eu gosto de olhar as expressões das pessoas. E tento adivinhar quem são. Loucura!

Ao contrário das pessoas cabisbaixas da fila, os caixas estavam bem contentes. Uma mulher bem vestida e sempre com um 'boa tarde' para dar, mesmo que alguém não desse para ela, um jovem meio calvo, bonitinho e bem desenvolto nas suas obrigações, e um moreno também bonito, mas esse não estava atendendo ninguém, fazia trabalhos internos e, de vez em quando, fazia os outros sorrirem. Eles conversavam, riam e brincavam uns com os outros. Nada como um saudável ambiente de trabalho. Finalmente chegou a nossa vez e a transação foi bem rapidinha. O oposto da minha espera. Minha irmã foi para casa e eu fiquei na faculdade. Ainda bem que não esqueci que hoje era dia de pós.

1 comment:

Leandro Colling said...

Bom texto, os fluxos, apesar de serem baseados apenas em observações, são bem verossímeis.