Tuesday, July 10, 2007

Jornalismo Literário - 5.9 com corpinho de 30!

Vivian Barbosa

"5.9 com corpinho de 30!" É assim que a Srta. M. se descreve. Ela já foi casada, tem filhos, mas ai de quem a chame de "Srª". Tá frito! O chilique é certo. Um faniquito daqueles. Com uma voz que realmente incomoda. Nhem nhem nhém, nhem nhem nhééémmm. Fala como um apito. É melhor aprender a chamá-la de la señorita.

A silhueta e a baixa estatura são de fazer grandes sombras no chão. As "marcas de expressão" são afogadas, todas as noites, com vários creminhos anti-rugas, daqueles que todos sabem que não vão dar em nada, mas insistem em usar. Olhos verdes e acesos, lábios finos e pequenos. Os cabelos já foram pretos, castanhos, loiros. Agora estão ruivos. Até quando? Só Deus e o cabelereiro dela, de nome impronunciável, sabem.

- Quando ele decidir que é hora de mudar, ele me avisa - diz com a maior tranquilidade.

Sua pele clara é sem graça. Por isso as cores sempre vivas nas unhas e nos cabelos, explica para quem quiser saber. Nunca repete uma roupa. 365 dias no ano. 365 roupas completamente novas. Com os sapatos, sempre com pouco salto, não chega a ser assim. Se você ver um par de veludo vermelho hoje, com um laçarote na ponta, espere para bater os olhos nele de novo daqui há uns dois meses.

Esteja fazendo muito frio, frio, calor, muito calor. Ela adora usar mantas, xales, meia-calça de lã, das mais variadas cores. A combinação, quase sempre, não combina. Improvável mistura da putaria de Dercy Gonçalves com o lado perua de Brigitte Bardot. Mas esse é o jeito dela. Ninguém mais se incomoda. Alguma peça do seu figurino tem que estar bordada a mão. Nem que seja a tiara que usa no cabelo, no mesmo tom da armação de seus óculos daquela semana.

E tem sempre aquele dia que ela acorda de ovo virado, achando a vida uma merda e sem vontade de se olhar no espelho. Nesses dias de TPM, ela veste uma camisa masculina, dobra as mangas até o cotovelo, coloca uma calça jeans, faz um rabo de cavalo e sai para trabalhar. É sempre bom, nessas ocasiões, esperar ela dizer "bom dia", antes de pronunciar qualquer expressão, seja lá no idioma que for. Uma hora ela amansa, vai no toilet e quando volta, dispara:

- Por que ninguém me disse que eu tô horrorosa????!!!!!

3 comments:

Leandro Colling said...

Bom texto, forma imagem.

Alaine Santos said...

Massa! Esse é um bom "Retrato verbal". Acho que os elementos mais importantes que ajudaram no processo de caracterização foram os adjetivos e locuções adjetivas.

Pablo Reis said...

Vivian, achei a descrição interessante, principalmente a expressão "grandes sombras no chão". É um bom recurso para chamar alguém de gorda sem precisar usar a palavra gorda, certamente muito mais pobre do que sua alternativa. Parabéns.