Wednesday, July 11, 2007

Jornalismo literário - Nada justifica

Renata Leite

Quarenta tiros de pistolas calibres 380 e 9 mm efetuados pelas mãos de quatro bandidos e um único alvo: o ambientalista Antônio Conceição Reis, 44 anos. O militante, conhecido por sua luta em defesa da Lagoa do Abaeté, retornava para casa, no bairro de Itapuã, por volta das 7 horas do dia 9 de julho, quando foi abordado pelos bandidos que usavam máscaras negras. Em questão de segundos, a morte se aproximava. Antônio jamais pensara estar num porta-malas de um veículo de cor prata, que saiu queimando pneu e impedindo que testemunhas identificassem a placa. Quem ainda estava dormindo levantou da cama com o susto.

Horas após a barbaridade, a polícia encontrou um corpo carbonizado no Ford Ecosport, de placa JQS-9300, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, que, possivelmente, seja do ambientalista. Do crime restaram apenas os testemunhos de vizinhos apavorados e o sangue jorrado de um ser humano na calçada de uma casa próxima a sua. Eles informaram aos agentes da 12ª Delegacia (Itapuã) que Antônio havia deixado a filha paraplégica, de 16 anos, na escola e caminhava normalmente, sem desconfiar de nada.

Os homens desceram do carro rapidamente e já atirando no ambientalista, que não teve tempo de se proteger. Antônio, de estatura alta, pele negra, caiu ao chão e recebeu mais tiros, que soavam aos ouvidos de quem acabara de levantar, naquela hora da manhã, quando o sol dava os primeiros sinais de que iria brilhar em pleno inverno.

Antônio, que era presidente do Grupo Ecológico Nativos de Itapuã, não imaginava que ontem poderia ser o último dia da sua vida. No entanto, vinha sofrendo ameaças de morte desde o dia que começou a receber ligações anônimas e bilhetes deixados na porta de sua casa – uma pequena residência na Rua Guararapes, de portas e janelas na cor terra – supostamente por conta da conquista junto à prefeitura de acabar com as festas de Carnaval e Reveillon no Parque do Abaeté, contrariando a maioria dos comerciantes da região que passaram a ser seus grandes inimigos. "É difícil dizer que há um suspeito. O que a gente sabe é que o nosso trabalho sempre incomodou muita gente", afirmou um dos familiares da vítima.

Muito assustada e sem acreditar no que havia acontecido, a comerciante Eliane Sampaio Silva Reis, mulher de Antônio, se mantinha de pé graças aos calmantes ingeridos. Ela acredita que tudo não passa de um crime planejado. Sua residência, naquele bairro boêmio e de inspiração para as canções de Dorival Caymmi, foi invadida por policiais do COE em janeiro, deste ano, durante uma operação da Polícia Civil de combate ao tráfico de drogas na Baixa do Soronha.

Da ação policial em sua casa, que por alguns minutos quebrou a tranqüilidade do bairro, restou o sofrimento em ver tudo revirado e destruído, e a queixa registrada na própria polícia daquele inesperado dia. "Hoje (9/7) era o dia marcado para Antônio reconhecer os policiais que invadiram nossa casa, mas já tinha dito que não teria coragem para evitar mais problemas", lembrou Elaine, às lágrimas.

* Exercício produzido a partir das informações publicadas nos jornais A Tarde, Correio da Bahia e no BA TV.

2 comments:

Leandro Colling said...

Pouco literário, ainda está presa no texto tradicional dos jornais.

Otavius said...

Gostei do seu texto. Acho que apenas que vc - assim como eu - sofre do limite e da objetividade imposta nas redações, mas isso é com o tempo!