Wednesday, July 11, 2007

Jornalismo Literário - AHHHH!!!

Liz Senna

Ao desembaçar o espelho com folhas de papel higiênico, após um banho esfumaçado, Carol depara-se com uma imagem cruel, surrealista e nada amistosa em meio aos pedaçinhos brancos colados no vidro que se misturavam àquela terrível imagem. Diante do reflexo de um monstro perdido no meio de milhares de sardas, que mais pareciam confetes de carnaval, percebeu uma enorme erupção no meio de toda aquela juventude. Nada mais dramático para uma adolescente como ela do que uma imensa espinha no meio da testa para aumentar ainda mais a sensação de que sua vida já estava perdida, a beira do caos.

- Carol, o jantar está na mesa!

A voz soava como um imaginário perdido no meio de uma multidão.

...mesa, esa, esa, esa.....

Nada mais fazia sentido, no mundo cruel, onde todas as atenções e os holofotes estariam anunciando o fim do mundo. Balançando várias vezes a cabeça, imaginava poder, como num passe de mágica, desfazer todo aquele mal que tinha reinado na sua vida, fechar o buraco que tinha sido aberto no chão. Tesouras, facas, giletes, espremedores de frutas, trituradores se tornaram aliados.

- Carol, o jantar vai esfriar minha filha!

...filha, ilha, ilha, ilha...

Pra quê comer? Iria apenas prolongar a triste existência de uma mera mortal.

Voltando aos aliados, a tesoura cortou, a gilete raspou, o espremedor espremeu e o triturador.....AHHHH!!!

Aquela coisa nojenta não fazia mais parte do mundo de Carol, não do rosto dela. No entanto, sob o mármore frio, combinava com o papel de parede do banheiro da suíte.

- Mãe, já estou descendo. Pede à D. Maria para fritar um ovo para mim...

5 comments:

Silvia Mizuno said...

Oi Liz, gostei demais da dramatização da retirada de uma espinha. Só achei que você podia revelar que se tratava de uma espinha no final da história, um parágrafo antes do ovo frito. Na minha opinião o texto ia ficar ainda mais interessante.

Fábio Guerra said...

Eu imaginei tudo, menos uma espinha. Você tá muito dramática, viu mocinha!! Acho que absorveu bem a técnica do fluxo de consciência. Gostei!!

Vivian Barbosa said...

kkkkkkkkkkkkk
eu era assim! uma espinha para mim era o fim do mundo! vc fez fluxo comigo, Liz?
kkkkkkkkkkkk

Renata Leite said...

Menina, me imaginei naquele banheiro, em frente ao espelho, lutando contra uma espinha, e olhe que só aparece de vez em quando.... Concordo com a Silva, você deveria revelar a danada no final do texto, mas está muito bom!!!

Leandro Colling said...

Bom texto,acho desnecessário revelar, tá na cara que é uma espinha!!!