Débora de Souza
Era o primeiro dia. O primeiro de muitos cansativos que ainda viriam.
O dia? Sol.
O medo? Não dar certo.
A dúvida? Se desistir, terei que recomeçar e a idade não será mais a mesma. Os que lá estão irão crescer, amadurecer... E os que desistem, correm o risco de tentar-desistir, tentar-desistir...
Acordou cedo, ligou o som na estação preferida que recorda músicas de tempos que não mais voltarão. Tomou um belíssimo banho frio para despertar o sono do dia anterior, após uma curtição com a namorada de dois anos de romance. Passou o gel azul recomendado para homens. A escolha da melhor roupa (e, é claro, a mais nova) foi fundamental. Precisava estar bem vestido para passar a primeira impressão. Pegou em cima do sofá sujo de poeira, encostado no canto direito da sala, beijou a cabeça de uma das meninas com quem morava e disse: "Tô indo!"
O nervoso só aumentava. Queria que a hora chegasse logo para acabar com todas as minhas curiosidades.
Chegou no ponto de ônibus cedo. Queria pegar o coletivo mais vazio para não chegar com as roupas amassadas na sala. Entrou no Sieiro-Aeroporto. Dentro dele, dezenas de homens, com os pés ainda sujos de cimentos do dia anterior e com aparência de pedreiro ou ajudante de pedreiro, conhecido atualmente como mestre de obras (até pedreiro recebeu nome bonito. Mas foi depois que aeromoça passou a se chamar comissária de bordo). Aquele ônibus estilo sanfonado no meio o deixava constrangido. Queria um Celta preto, rebaixado.
Após passar dois anos no cursinho, queria mostrar ao pessoal do interior da Bahia, mais precisamente da cidade de Oliveira dos Brejinhos, que estava na faculdade de jornalismo, em Salvador, e pagando a mensalidade com o esforço de estar trabalhando na loja da rede C&A. Nas cidades do interior da Bahia, notícia boa é quando o filho de fulano (aquele que só queria saber de farra) passou no vestibular.
Os primeiros dias foram ótimos: apresentação dos professores, comentários sobre as disciplinas e blábláblá. Mal imaginava ele que passaria naquele lugar os melhores e mais emocionantes momentos da sua vida acadêmica-profissional. O sorriso deve vir aos lábios quando lembrar da surpresa que as colegas fizeram na praça de alimentação da facu (assim chamam faculdade). Sequer pensou na possibilidade de contratarem um transformista para levar à facu, e fazer um show engraçadíssimo diante de todos os seus colegas. Era daquele tipo de transformista "chamativo". Em Salvador, as pessoas extravagante são comumente chamadas de "jegue na Lavagem do Bonfim". Explicar o significado da Lavagem seria, agora, cansativo.
Foi no 4º que More... Xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii... ainda não havia citado o apelido do dito cujo... Enfim, no 4º (semestre) ele descobriu sua paixão. Calma, calma, calma!!! Não foi nenhuma namoradinha acadêmica, e sim o Radiojornalismo. More ficou fascinado por rádio. Seus olhos brilharam quando esteve pela primeira vez na rádio Globo FM, com o jornalista Jefferson Beltrão. More é do tipo de pessoa que se relaciona com muita facilidade. Mesmo irritado, consegue ser uma pessoa bacana.
Já sofreu por amor, e hoje faz sofrer quem o ama.
Conhecido pelas suas enrolações durante apresentação de trabalhos na faculdade, amigos decidiram lançar o livro "Técnicas de Embrometion". Nunca lançaram. Sequer escreveu. Talvez fosse algo tipo "A história oral", do livro O segredo de Joe Gould (More não chegou a escrever, Gould sim!).
As embromações serviram, pelo menos, para sua conclusão no curso. O trabalho desenvolvido foi um videodocumentário sobre os Filhos de Gandhi. Processo de elaboração: saiu pelas ruas de Salvador para filmar o tema do seu trabalho, durante o carnaval. Não cumpriu por falta de vontade.
Nota: 9,0.
Resultado: Aprovado com distinção.
Afinidade com o tema: zero.
7 comments:
Débora,
Fique com dúvida... Esse texto era o exercício de fluxo de consciências? Porque não consegui identificá-los (pode ser um problema meu também)... O outro comentário farei pessoalmente (calma, não e nada demais!), refere-se a uma citação... Independentemente disso, gostei da narrativa. Se tivesse incrementado um pouco as descrições, ficaria ainda melhor. Valeu!
Legal o texto... até metade eu consegui sentir as aflições do personagem, mas quando você passou a citar como ele era em sala achei que vc se perdeu ai. descreveu sem descrevê-lo, mais uma opnião sua do que uma descrição ou fluxo de consciência.
Hello girl!
Tbm não consegui ver os pensamentos e as esquisitices de More e olha que ele tem muitas... rsrsrsrrsrr!!! Achei que vc fez uma narrativa da vida dele e algumas descrições!! Mas gostei de conhecer o inicio da vida de More, até então desconhecida por mim! Qdo vê-lo no msn vou dizer que vc fez esta homenagem...
É, assim como Luana, não consegui perceber se o texto era de descrição ou de fluxo de consciência. Acho que deve ser a primeira opção, porque eu não senti muito o que o More pensa das coisas, como ele encara a vida.
Meio confuso entre descrição e fluxo de consciência. No entanto, a descrição deveria ser mais explorada. No geral, ficou texto comum.
Fluxo bem tímido.
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