Friday, July 27, 2007

Jornalismo Literário - Na escola

Flávio Freitas

- Caramba! Gritou de alegria o jovem Antonio, estudante de Letras Vernáculas da Universidade Estadual de Feira de Santana. Antonio fora selecionado para mininistrar aulas de português no colégio Teotonio Vilela, situado no bairro João Paulo, na mesma cidade da Universidade. Ao chegar na escola, fora recepcionado por uma secretária da diretoria, que fez com que lembrasse do seu tempo de estudante colegial. Era baixa, gorda, velha, usava óculos, uma blusa estampada sem mangas e uma calça marrom escura. Logo disse:

- Boa tarde meu filho, em que posso ajudar?

- Não, é porque eu vim encaminhado pela DIREC - orgão regulador da educação no estado e no município - para dar aulas de português nesta instituição para as turmas de 7° e 8° séries. "Aliás, esse é o problema do professor, enquanto dentistas e médicos vendem consultas, o professor dá aulas"

- Você aguarda um momento que vou anunciá-lo à diretora!

- Está bem, respondeu o pré-professor de maneira educada.

Avistou uma cadeira e, logo sentou, começou a olhar para os quatro cantos da sala. Mais uma vez, recordou o tempo de estudante. "Pois é, estou de volta", lembrava das peripécias que aprontava, porém agora estava do outro lado. "Seu traira!"

Quando foi permitida sua entrada, a diretora, outra gorda, aliás, começava a pensar que esse é o fim das professoras e profissionais das escolas, elas ficam velhas, gordas, passam a usar óculos..., enfim, a diretora perguntou:

- Então você veio da Direc?

- Sim, respondeu Antonio entregando-lhe a documentação dentro de um envelope grande, daqueles tipo para currículo.

- Ah, mas é uma pena, você veio muito tarde, eu dei a vaga ante-ontem para outra professora, você sabe como é, era caso de urgência.

Meus Deus, como pode, nem começara a trabalhar e já estava demitido. Novo recorde mundial. Antonio não sabia o que dizer, começara a gaguejar, suas mãos suavam, parecia que o mundo ia desabar, como falaria isso para seus amigos que esparavam no bar para comemorar? De repente uma luz no fim do túnel começou a surgir:

- Você sabe inglês?

- Hot Dog, respondeu Antonio, na tentativa de ser simpático. Conseguiu. A diretora chegou a chorar de tanto rir.

- Gostei de você, a vaga é sua.

- Mas a senhora disse que...

- Não, é outra vaga, para professor de inglês, esses meninos nem hot dog sabem o que é?

Foi quando, de repente, surgiram o anjo e diabinho na cabeça de Antonio para um debate em segundos. Como poderia aceitar e contribuir para o sucateamento do ensino público, meu negócio é língua portuguesa. Por outro lado, pensava em como ficaria sem grana por mais um período e como decepcionaria seus amigos. Prevaleceu a razão financeira. Afinal, poderia estudar durante uma semana e aplicar uns trabalhos...

- Aceito! Quais são as turmas?

- Ensino Médio, 1°, 2° e 3° ano.

- Tô fora! Retruncou Antonio.

Como poderia um estagiário, do terceiro semestre de língua portuguesa, ministrar aulas de inglês para pessoas que iriam fazer o concurso de vestibular? Não, não poderia aceitar, aí também já é demais.

Porém, a diretora insistia. Falava que, pela experiência dela, era muito melhor trabalhar com ensino médio do que com o fundamental, o que Antonio comprovaria mais tarde.

Mais uma vez a dúvida se instalara na sua cabeça. E agora José? Ser ou não ser (professor de inglês), eis a questão?

Antonio topou a parada e saiu em disparada para casa, com certeza preparou um bom hot dog para devorar!

Mais tarde, descobriu que a professora que o substituira era sobrinha da diretora e, como ele, não poderia voltar para Direc sem estar com a documentação que comprovaria sua entrada na escola. A diretora arrumou-lhe esse problema, ou melhor, esse "pertaining to school problem".

1 comment:

Leandro Colling said...

Não ficou claro o final, mas o fluxo está bom.