Saturday, July 14, 2007

Jornalismo Literário - Universitário no buzu

Pablo Reis

Salvador Card sem crédito é o caralho. A prova é uma incógnita. Errare Human Est. Nada do que foi será... E que venha a desgraça do povo. Use Rider. Assista televisão e dê férias aos seus neurônios. Use Rider. Dê férias. Fim de semestre. Cabeça, tronco e membros. Membros, membro, grupo, grupos, tudo. Univer city. Nada, talvez. Tinha crédito sim, nessa porra. Bora Baêêêa. Um simbolismo muito forte: um guri. Menino de rua. Filho da rua. Dono da rua. No meio do ônibus. Meio-dia. Mau humor à flor da pele. Fome. Almoço à espera, menos do guri. O guri está cansado, e, principalmente, de tudo. O guri pede esmola. Coloca moedas na boca. Dinheiro compra comida. Dinheiro mata a fome. Um simbolismo muito grande.

A prova tava foda. Prova. Perguntas, perguntas. Respostas, nem tanto. Ainda olha pra trás e pensa. Ainda pensa e olha pra trás. Porra de ficar tirando onda por causa do cartão. É só tirar o dinheiro da carteira e pagar. Tem nada que dizer para andar mais rápido porque tem gente esperando. Por isso que é um fudido, fã de Zé Bim, vai pedir uma cesta básica naquele programa de merda, de gente pobre.

E ele ali gastando os músculos do tríceps feitos a aminoácidos e uma mensalidade de 160 reais no roçar com as carnes flácidas da gorda que nem é empregada doméstica e nem é baiana de acarajé. Nem deve ser gente, essa trouxa de bosta, que peida e quando sua libera uma murrinha pegajosa por baixo do braço. Segundo semestre de Direito na Ucsal, filho de dona de loja no shopping e advogado de construtora, separados recentemente. Só agora se deram conta que não se suportavam nem no namoro. Irmão de ex-miss do Yacht Club, reduzido a mais um fudido no buzú também.

Ainda pensa que pensa. Vem a prova e pau: “Você é burro”. Não vai ser nem oito. Quem dera fosse dez. Tomara que dê prá passar. Vai tomar no cu, você, cobrador, filha da puta, tomando corno agora, fudido. Se for assaltado, que levem até os trocados que eu iria comprar o cachorro quente. Os outros vagabundos fudidos e na merda como ele. E depois ainda são obrigados a dizer que a casa caiu.

5 comments:

Luana Francischini said...

Ritmo alucinante, fluxos, descrição, narrativa, tudo muito bom. Só que ao final do texto fica a mesma dúvida da locutora do aeroporto: é ficção ou realidade?

Marvin Kennedy said...

Concordo com Luana,talvez nomes ou algum ponto que o atrele à realidade ou ficção solucionariam a dúvida. No mais, o ritmo veloz, o texto em si está muito bom! Parabéns!

Leandro Colling said...

Muito bom o texto, é o tal do fluxo mais radical. A pergunta da Luana é certa, pois o texto não apresenta o personagem. Ainda bem que pelo menos o título ajuda um pouco o leitor.

Leandro Colling said...

ah, quero ler trechos assim no correio hehe

Pablo Reis said...

Leandro, é aquela velha história. Como os editores e a maioria dos repórteres não tiveram aula com você, eles têm uma peculiar avaliação sobre esse tipo de texto: "pura enrolação de quem não consegue apurar"...rsrs