Adriana Alves Rodrigues
O último dia na vida do ambientalista e presidente do Grupo Ecológico Nativos de Itapuã, Antônio Conceição Reis, 44 anos, já anunciara um prenúncio. Acordou cedo, como de costume, tomou café e, acompanhado da filha, foi deixá-la na escola. Esta seria a última vez que a filha estaria com o pai. Quando retornara, às 7h30 da manhã, na rua Guararapes, nº 14, no bairro de Itapuã, uma supresa lhe aguardava: quatro homens estranhos lhe abordaram, atiraram contra o ambientalista e, sem dar chance da vítima esboçar uma reação, o colocaram no porta malas de um carro Ford Ecosport e saíram pelas ruas de Salvador. Para que seus rostos não fossem vistos, os algozes, espertamente, trataram logo de esconder e colocaram uns capuzes, um truque bastante comum.
E a movimentação começou a borbulhar no bairro de Itapuã. Os moradores, principalmente os mais chegados, queriam saber como foi, quando, o quê, quem e onde, como se fossem repórteres atrás da notícia. Mais do que isso. Estão consternados pela morte do ambientalista. Dúvidas, questionamentos, suposições e medo. Depois do crime, impera a lei do silêncio. Ninguém atende a imprensa já presente no local do crime. Radialistas, repórteres, fotógrafos, todos querem coletar informações, entrevistar testemunhas, moradores, familiares. Querem a melhor reportagem e se esforçam para isso: perguntam perguntam e perguntam.
Diante de tanto silêncio, o cunhado e vice-presidente do Grupo a qual o ambientalista era presidente, revela:
- O Antônio tinha uma coleção de inimigos, desafetos. Como ele era defensor da Lagoa do Abaeté, ele constantemente pedia aos turistas para não irem às dunas. Os comerciantes da localidade não gostavam muito das ações e idéias que Antônio defendia e apregoava.
Recentemente, o ambientalista andava recebendo uns telefonemas meio estranhos, como vozes difíceis de identificar. Ligavam para ele a qualquer hora. Cartas em tom ameaçador também chegavam à sua residência e este fator foi se intensificando nos últimos dias.
- O que sei dizer, é que sua morte fez a alegria de muita gente que não gostava dele. Apenas isso eu sei. Nada mais - disse a viúva do ambientalista Eliene Sampaio Reis, ainda consternada, em depoimento na Delegacia.
A polícia ainda não sabe a autoria do assassinato. Um carro cabornizado foi encontrado hoje (9/7) com um corpo dentro. A polícia tem fortes suspeitas de que seja o corpo do ambientalista. O que muita gente sabe é que Antônio já vinha sofrendo ameaças por telefone, bilhetes há cerca de uma mês, quando sua casa fora invadida por policias civis, em 6 de fevereiro. Depois deste episódio, Antônio resolveu entrar com um processo contra os policias. Ele queria justiça, ansiava por ela. Disseram que ele ia desistir do inquérito policial. Talvez porque estivesse desacreditado dela. Ou, por receio de retaliações. Não se sabe.
Mas, ao que tudo parece, os ambientalistas, no Brasil, muitas vezes, pagam com a própria vida a paixão pela defesa do meio ambiente. Há quem relembre o caso da morte da missionária Dorothy Stang, de 73 anos, conhecida como irmã Dorote, que foi morta com sete tiros a 53 quilômetros da sede do município de Anapu, no Estado do Pará. Dócil, cabelos curtos e sinalizando a experiência de vida, a Irmã Dorote era uma figura carismática na região. A sua morte provocou muita indignação e revolta nos moradores de Anapu que, ainda hoje, louvam pela missionária.
Além das causas ambientais, o caso da missionária levanta uma coincidência: ela foi assassinada à 7h30 da manhã, mesmo horário que o ocorreu o fato com Antônio. O final triste na história de ambientalistas ainda suscita indagações e deixa a polícia e familiares atônitos.
Assustados, os moradores de Itapuã não conseguiam entender as causas reais do crime e se dizem chocados com a violência. E clamam por mais segurança. Antônio Conceição dedicou 18 anos de sua vida na defesa das causas naturais e se orgulhava disso. Magrinho, calmo, falava pausadamente e, no caos da vida urbana, parecia desconhecer a palavra estresse. Polêmico, o ambientalista provou do amargo sabor de defender as causas ambientais.
* Exercício produzido a partir das informações publicadas nos jornais A Tarde, Correio da Bahia e no BA TV.
Wednesday, July 11, 2007
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3 comments:
Nos primeiros parágrafos usa as técnicas, depois esquece, vira texto comum.
Drica, que medo é esse de arriscar? O texto acabou ficando bem preso aos "princípios da objetividade". Vamos desgrudar esses pés da terra e tentar criar asas, pelo menos de vez em quando.
Eu gostei, Adriana. Acho que você explorou bem a situação dos moradores e a questão da filha que não veria mais o pai. Poucos citaram isso. Meu texto, que ainda não publiquei, também começa bem, mas depois perde a linha literária. Talvez isso seja normal nesses primeiros exercícios. Tenho certeza que vamos melhorar e conseguir manter o ritmo literário até o final, certo?
Parabéns!
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