Wednesday, July 25, 2007

Jornalismo Literário - Crime no bairro encantador

Gabriela Braga

Foi-se o tempo que as pessoas podiam “passar uma tarde em Itapoã, ao sol que arde em Itapoã, ouvir o mar de Itapoã e falar de amor em Itapoã”, como diz a música de Toquinho e Vinícius. No início da década de 50, o bairro era apenas uma colônia de pescadores em uma região afastada do centro de Salvador. A praia passou a ser ponto de veraneio predileto dos soteropolitanos e, hoje, Itapoã é uma perigosa atração turística.

Segunda-feira, 9 de julho de 2007. Um assassinato brutal estava para acontecer em um dos bairros mais populosos e populares de Salvador. Mais uma semana começava para o ambientalista Antônio Conceição Reis, de 44 anos. Como de costume, Antônio acordava cedo para levar sua filha, de 16 anos, à escola. Quando voltava para casa, o ambientalista foi abordado por 4 criminosos em frente à garagem de uma residência na Rua Guararapes, por volta das 7h.

Armados de pistolas, os bandidos encapuzados desceram do veículo e atiraram em Antônio, que caiu ao chão e recebeu mais tiros. Em seguida, os criminosos jogaram a vítima no porta-malas do carro e fugiram. Esse foi o relato de vizinhos que presenciaram o crime e comunicaram o fato à Polícia, que encontrou no local 14 cápsulas de pistolas ponto 380 e 40, de uso exclusivo da polícia. Horas depois, um corpo de um homem foi encontrado carbonizado dentro de um veículo em Cordoaria, distrito de Camaçari.

Reis era presidente do Grupo Ecológico e Cultural Nativo de Itapuã. Evaraldo Sampaio, vice-presidente da entidade, disse que ele vinha sendo ameaçado desde que conseguira impedir a realização de festas de Carnaval e Reveillon no Parque do Abaeté, uma área de proteção ambiental de Salvador, contrariando a maioria dos comerciantes da região.

O Parque Metropolitano do Abaeté é um imenso patrimônio ambiental e turístico, composto por dunas, lagoas, vegetação nativa e 255 hectares de área urbanizada. São mais de 12 mil metros quadrados de preservação que transformam o espaço num dos maiores centros de lazer ecológico do Nordeste. Mas falta segurança no local. A Lagoa do Abaeté era um ponto de referência para os baianos. Um lugar famoso por suas lendas, como a história do surgimento da sua "lagoa escura arrodeada de areia branca", que nasceu das lágrimas de uma índia abandonada no dia de seu casamento. As lendas do Abaeté são muitas, e o ambientalista Antônio Reis tentava preservar aquele local com tantos encantos.

A esposa de Antônio, Eliane Sampaio Silva Reis, muito abalada com tudo o que aconteceu, confirmou as informações de Sampaio. Segundo ela, as ameaças de morte vinham através de ligações anônimas e bilhetes deixados na porta de sua casa, há cerca de um ano. Eliane contou ainda que em janeiro deste ano, durante uma operação da Polícia Civil de combate ao tráfico de drogas na Baixa do Soronha, policias do COE invadiram sua casa à procura de traficantes, tendo revirado todo o imóvel e destruído alguns objetos na presença de Antônio, sua mulher e das duas filhas adolescentes. No dia do assassinato, inclusive, Antônio iria à Corregedoria da Polícia Civil, onde havia registrado a invasão à sua casa. Eliane chegou a falar que, devido às constantes ameaças, Antônio comentou que talvez desistisse de fazer o reconhecimento dos policiais, pois temia pela sua vida e da família.

Esses são os pontos de um crime que deve demorar de ser esclarecido. O corpo encontrado carbonizado é mesmo do ambientalista. Enquanto o crime não é esclarecido, familiares, vizinhos e toda comunidade de Itapoã lamenta pela falta de segurança no bairro.

1 comment:

Leandro Colling said...

Texto tradicional, sem o uso das técnicas. Impressionante a quantidade de alunos que fez referência à música. Clichê.