Wednesday, July 11, 2007

Jornalismo Literário - Quando o sol esfriar


Yuri Almeida

Ela queria só andar um pouco de bicicleta. Mas o pai insistiu que o sol estava quente: muitooooo quente Samantha, os raios ultravioleta são prejudiciais à saúde... é o que ele sempre diz....é, só resta esperar.

Ela procurava as bonecas? Ah! No final do balde...tirou o conjunto de panelas, miniaturas de um leão, cavalo, boi, tigre, camelo. Hum...achou a maquiagem, quando o sol esfriar e for andar de bicicleta passarei no meu rosto...continuava a procurar a boneca? Ali, mas no fundo, só restava tirar o balde de praia e a bolinha pula-pula. Pegou. Estava sem a saia, só com a blusa...toda suja. Chamou a boneca, para dar-lhe um banho...

Abri a torneira, a pia estava sem sabonete... pegou o dela! A sua saboneteira é azul, a de seu pai é um verde desbotado, ele não gosta de lavar. Fica sempre junto da filha. Em cima a de vovó Lene, não tem cor, dá para ver a tonalidade do sabonete e a na prateleira de baixo, tio Ícaro e tio Ian dividem a saboneteira amarela, sempre cheia de água. Vovó Lene sempre briga, porque o sabonete acaba mais rápido.

O seu é de criança, bem pequenininho e tem cheiro de morango. Molhou o rosto da boneca, passou o sabonete de morango, esfregava bem...voltava abrir a torneira, esfregava, esfregava, opa! Fechou a torneira para papai não brigar...abriu novamente, a água saia da torneira limpinha, enfiou a cabeça da boneca debaixo, gotas vermelhas, pretas, rosa, azul, amarelo formam um arco-íris na pia, a cara da boneca estava quase limpa...mais um pouquinho de sabonete vai resolver, shac, shac...bem forte esfregando os dedos sob a cara da boneca. Pronto. Estava limpa...

Já dissera para não colocar a sua toalha no banheiro para enxugar o rosto. Ainda mais essa do ursinho, a que ela mais gostava...Estava toda molhada, xiiii, molhou o cabelo dela também. Levou a boneca, agora limpinha para o quarto ficar com suas amiguinhas. Uma do lado da outra, Samantha fico no meio, era mãe e a boneca a sua filha... agora iria trocar de roupa..Futucou o balde... esse pedaço de pano deve serviu... Olhava atenta o sol pela janela. Finalmente o pai olhou para o relógio, olha para ela, abri a boca, os lábios se mexeram, uniram-se as letras, formaram as sílabas, ganharam tonalidade, nasceu a palavra S-O-L. Esfriou...

Você fica aqui filhinha e saiu à procura da sua maquiagem.

6 comments:

Najara Lima said...

Nossa, que texto legal, Yuri. Eu sinto como se fosse agora amiga íntima de Samantha. Ou uma de suas bonecas. O texto me fez recordar minha infância, as miniaturas de animais, os baldinhos de praia, as esperas infinitas pelo "esfriar" do sol. Se o pai de Samantha for você, parabéns pela sensível observação da sua filha. E parabéns pelo texto também.

Josi Anjos said...

Gostei muito do texto. Vc prende o leitor e não economiza nos detalhes sobre a linda Samantha.

Luana Francischini said...

Adorei! Casou tudo (descreição-narração-fluxos) sem nada parecer forçado.

Débora said...

Eu sou uma grande admiradora dos seus textos. Gosto da forma como escreve e descreve. Os detalhes... os mínimos detalhes... as reticências... PERFEITO!!!

Vivian Barbosa said...

ô, que doce! não me deu saudade da minha infância... deu foi vontade de ter uma Samantha pra mim... hehehehe

Leandro Colling said...

Gosto do texto, mas às vezes o leitor fica confuso se o fluxo é da criança ou do pai. Se isso for proposital, ok, se não for, é problema.