Tuesday, July 10, 2007

Jornalismo literário - Uma vida pelo Abaeté

Silvia Mizuno

- Uma cena aterrorizante. Foi a primeira declaração dos policiais que chegaram ontem (9/7) à tarde na BA 099, no Recanto da Sucupira. Lá foi encontrado um corpo queimado dentro do porta malas de um Ecosport com placa “clonada”. O cadáver tinha sinais de tortura, marcas de tiros no peito e na cabeça.

- Só com exames do Instituto Médico Legal, as dúvidas poderão ser esclarecidas. Disse a delegada Francineide Moura.

A dúvida é se o corpo é do ambientalista Antônio da Conceição Reis, 44. Conhecido pela luta em defesa da Lagoa do Abaeté, há dezoito anos, Antônio coordenava o Grupo Nativos de Itapuã. Um trabalho nem tão tranqüilo como pode parecer. Alto, barba e bigode ralos, muito magro. Uma figura à primeira vista frágil, mas com gestos firmes e largos quando o assunto é o meio ambiente.

Na delegacia do bairro de Itapuã, a mulher de Antônio, Eliene Reis, confirmou para os repórteres o que disse em depoimento:

- Ele vinha recebendo ameaças há mais de um ano.

Eliene falou sem derramar uma lágrima. A testa franzida demonstrava mais indignação do que dor atrás dos óculos de armação escura.

Antônio lutou pela proibição de realização de festas no Parque do Abaeté. Também fez denúncias à Corregedoria da Polícia Militar de que policiais teriam invadindo casas e ameaçado pessoas inocentes na Baixa do Soronha. E assim foi colecionando desafetos.

Por volta das sete e meia da manhã do dia 9 de julho, Antônio foi baleado e levado no porta-malas de um carro, na rua Guararapes, em frente a casa onde morava com a mulher e a filha. Provavelmente estava passando pelo portão de ferro, a poucos passos da porta de madeira. Na frente, à direira, no parapeito da janela fechada, vasos de plantas bem cuidadas.

- Tudo muito rápido – como disseram várias testemunhas.

- Vi uns homens um carro preto, deixando o local onde o corpo foi abandonado – disse um motoboy que não foi identificado.

Agora serão 20 dias de espera e agonia. O prazo que Perícia Técnica tem para dizer se o corpo carbonizado é do ambientalista Antônio da Conceição Reis. Um homem franzino e determinado que dedicava a vida pela Lagoa do Abaeté.

* Exercício produzido a partir das informações publicadas nos jornais A Tarde, Correio da Bahia e no BA TV.

3 comments:

Najara Lima said...

O mais legal do texto da Sílvia é que ela começa contando o último fato - o corpo carbonizado - e só lá no final conta como Antonio morreu. Legal também algumas informações que parecem ter sido colhidas em entrevistas realizadas pessoalmente pela própria Sílvia, dada a riqueza de detalhes que usa ao falar da mulher de Antonio, por exemplo.

Silvia Mizuno said...

Najara, agradeço o seu comentário. Confesso que fiz o texto um pouco apressadamente porque o primeiro foi expressamente rechaçado pelo professor. É que acabei "viajando na maionese" e escrevi um texto de ficção. Sabe como é. Quando a gente faz muito arroz com feijão no dia a dia, dá uma vontade de escorregar na maionese...

Leandro Colling said...

O primeiro texto era bem literário, mas ficção. Esse é uma tentativa de aliar as duas coisas. Pelo tempo, deu conta.