Renata Purri
Ai que calor. Ela não suporta calor. Também não suporta praia. E detesta avião.
Do alto dos seus 64 anos, Roxana pensou: minha bunda não cabe nessa cadeira pequena que cada dia que passa fica menor e mais desconfortável, essas companhias aéreas não pensam nas senhoras que já são avós e gordas e têm que viajar pra visitar os netos mas com suas bundas grandes ficam todas apertadas nas cadeiras desse avião. Ai! Só mesmo pra reunir a família e ficar perto dos netos. Às vezes tenho vontade de morrer logo pra não ter que enfrentar essas cadeiras de avião e esse bafo quente que dói o rosto de quem tá saindo do aeroporto de Salvador.
Mas vamos lá, vamos em frente. Tenho 3 filhos e 2 moram longe. Tenhos 3 netos e 2 moram longe. É a minha sina essa cadeira de avião. Mas a viagem até que não atrasou tanto. Já demos os beijos iniciais. Foi bom ter vindo junto com minha filha mais velha, a Tati, e meu netinho mais novo, o Giggio. É ótimo quando eles se encontram com a Renata - a do meio, e os filhos dela. No fundo adoro quando vejo a Renata e a Tati juntas, são mesmo irmãs unidas.
- Mãe, tudo bem? Como foi a viagem?
- Tudo ótimo; a viagem foi tranquila.
Tranquila nada, com aquele cara ao lado falando sem parar e eu querendo dormir porque acordei às sete da manhã. Mas deixa ela pensar que foi tranquila.
- Filha, você ainda está com esse carro velho? Nossa, ele é forte mesmo, é de que ano?
- 97....
Ai meu Deus, esse carro está caindo aos pedaços, queria tanto ter dinheiro pra comprar um carro novo pra ela. Mas os mais novos têm que ralar mesmo. Se pelo menos eu tivesse mais dinheiro guardado na poupança... Mas o que tem lá é pras emergências médicas, e eu com essas dores eternas e cracas de velho vou mesmo precisar de dinheiro guardado.
- Ná, você engordou um pouquinho né?
- É....
Um pouquinho nada, foi muito mesmo. E essa roupa tá engordando mais ainda. Ai, essas meninas a vida toda lutando contra a balança... Tudo culpa minha, devia ter sido mais rigorosa e proibido as seções diárias de batata frita.
- Filha, que bom que você comprou seu apartamento este ano. Só precisa de umas reforminhas né?
- É....
Reforminha nada, tem que botar a casa abaixo e construir de novo. O piso é velho, tem parede descascada, as janelas precisam ser trocadas, banheiro e cozinha então, nem se fala. O apartamento é grande e tem uma bela vista, mas nesse estado, não sei não....Vamos ver quanto tempo ela vai demorar pra reformar isso tudo.
- Filha, te amo viu?
- Eu também mãe.
É bom ser sincera aos 64 anos.
Wednesday, July 11, 2007
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12 comments:
Adorei, adorei, adorei! Roxana precisa ler isso urgente!
hehehe
praticamente visualizei uma cena do seriado Friends nesse texto, entre a Monica e a mãe dela.
muito bom!!!
muito bom!!!
Tá massa, Rê!
Pra quem estava cheia de medos, você radicalizou e ficou muito bom. Eu não senti muita segurança em fazer a narrativa com fluxos (a técnica é difícil!!) e acabei fazendo um fluxo mais careta...
Nossa, juro que achei que já tinha comentado esse texto. Porque eu li ontem e adorei. Bom, mas ainda é tempo de dizer que adorei mesmo o texto. Bem descritivo, fluxo bem evidente. Parece Friends mesmo, Vivian! Acho que quando eu ficar mais velha vou parecer muito com a Roxana!
Ótimo texto Renata, gostei muito. Como Luana já falou, vc radicalizou no fluxo e ficou perfeito. Você é mesmo boa nisso menina. Parabéns pelo texto e a família.
Renata, gosto muito de ler seus textos, principalmente o final, que sempre deixa uma reflexão, uma moral na história.Vou sentir falta das aulas do Leandro......
Gostei muito!!!
Muito legal o seu texto Renata!!! Viajei na Roxana. Amei!
Adorei, Renata! O seu texto-fluxo me deixou preocupada... Quando eu ficar velha (e gorda), que eu consiga ficar com essa sinceridade só no plano da consciência e não verbalizar tudo que eu penso como a Roxana consegue fazer! rs
Ótimo exemplo de fluxo, e de como ele é necessário para compreendermos o "real".
hi ms. purri
hi ms. purri
from greg purri fl, us
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