Tuesday, July 10, 2007

Jornalismo Literário - Precisava tanto!

Alaine Santos

“Humanidade” de uns sobre a “desumanidade” de outros. Esta humanidade primeira é sustentada pelo ambientalista Antônio, coordenador de adolescentes que atuam como guias mirins na Lagoa do Abaeté. A desumanidade segunda foi representada por quatro encapuzados que assassinaram o ambientalista com vários tiros. Da violência urbana ao assassinato de inocentes e aos de crimes horrendos. Pimenta no olho dos outros é refresco, diz o velho ditado. Ainda deve ter gente que achou pouco o martírio que foram os últimos segundos de vida de Antônio.

“Ele foi abordado perto de casa pelos bandidos ao voltar da escola da filha”, contam os vizinhos. “Encontramos na cena do crime parte da massa encefálica e dentes de Antônio, 14 cápsulas de pistolas ponto 380 e 40, de uso exclusivo da polícia” (precisava tanto!), dizem os agentes da 12ª DP (Itapuã). Mais um assassinato em Salvador. Desta vez, a vítima foi o ambientalista Antônio Conceição Reis, 44 anos, morador de Itapuã, presidente da ONG Nativos de Itapuã e coordenador do projeto social Meninos do Abaeté. Efeito estufa... Aquecimento global... Desmatamento... Tudo isso incomodava Antônio que, por ser ambientalista, era alguém que acredita que o meio ambiente, por ser a fonte de recursos da humanidade, deveria ter sua exploração de forma mais planejada a fim de não esgotar o planeta para as gerações futuras.

A mancha de sangue do asfalto marca para sempre nossos olhos, molha nosso espírito e tinge de vermelho a vergonha nacional. Na cena do crime foi isso que restou. Grandes e fortes manchas de sangue. Tão incrivelmente plausível, tão profundamente real, tão intensamente cruel, tão degradante... Pensei na sorte que tive na vida e nas vidas miseráveis, doentias, auto-destrutivas que, tantas vezes, se desenrolam ao nosso lado, escondidas atrás de paredes e portas envergonhadas. Pense como a desgraça é reprodutiva e contagiosa, na sua ânsia de afundar mais uns quantos no seu poço de dor, angústia e desespero.

“Ele tinha diversos inimigos na região”, frisou a delegada da 12ª DP ao ter conhecimento de que o ambientalista acabou se desentendo com alguns comerciantes da região da Lagoa do Abaeté, em Itapuã, em virtude da não realização de festas de Carnaval e Reveillon no Parque do Abaeté, área de proteção ambiental.

Enquanto Antônio pensava na manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana, admitindo apenas o uso indireto dos seus recursos naturais para, por exemplo, pesquisas científicas e turismo ecológico, os donos de estabelecimentos do local pensavam em vender grades e mais grades de cerveja. Enquanto Antônio pensava em preservar e recuperar a vegetação nas faixas de proteção das lagoas, nascentes, rios, riachos e manguezais, os comerciantes queriam lucrar com a multidão que marcava presença nos eventos promovidos na Lagoa do Abaeté.

Na dicotomia (lado bom X lado ruim) baiana, os bonzinhos estão "sobrando". E agora?!

* Exercício produzido a partir das informações publicadas nos jornais A Tarde, Correio da Bahia e no BA TV.

2 comments:

Najara Lima said...

Achei o texto mais parecido com um artigo, apesar de utilizar elementos literários. Achei também um pouco confusa a maneira como estão dispostas as citações. Eu, lendo pela primeira vez e nada sabendo sobre o caso, talvez não entendesse direito como o fato realmente se deu.

Leandro Colling said...

Concordo, parece artigo.