Josi Anjos
O bairro de Itapuã já não é mais o mesmo de outrora. Anunciaram as notícias dos jornais dos últimos dias. A insegurança tem rondado o bairro da capital baiana, de onde exala um forte cheiro de morte mesclado com a maresia da encantadora praia. Ao que parece, já não é mais tão atrativo passar uma tarde em Itapuã...
A onda de insegurança apavora não apenas quem não sabe nadar, mas a todos os moradores do bairro. No entanto, um deles, em especial, colecionava motivos para temer. Defensor da vida, o ambientalista Antonio Conceição Reis vinha sendo ameaçado e já estava condenado à morte, amplamente anunciada por cartas e telefonemas há cerca de um ano.
A promessa não tardou muito a ser cumprida. Na manhã de 9 de julho, a história de Antonio Reis teve um desfecho trágico que marcou e revoltou o bairro. Coincidentemente, o assassinato ocorreu na segunda-feira em que o ambientalista deveria fazer o reconhecimento de policiais civis que invadiram sua casa, de forma truculenta, em janeiro deste ano, durante uma operação policial na repressão ao tráfico de drogas.
Receoso por sua vida e a da família, Antonio não descartava a possibilidade de desistir de fazer o reconhecimento dos agressores, como havia confessado à esposa. No entanto, ao retornar da escola da filha, por volta das 7h30 da manhã, várias balas atravessaram o seu destino e tiraram-lhe a vida.
O crime ocorreu a cerca de cinco metros da casa em que ele vivia com a família, na rua Guararapes. Ao chegar no local, os agentes do 12º Departamento de Polícia encontraram os sinais da violência: 14 cápsulas de pistola 38 e 40mm, de uso exclusivo da polícia, além de manchas de sangue, dentes e partes da massa encefálica da vítima.
O tititi dos moradores que ecoava através do vento narrava o acontecido. Antonio havia sido abordado, em frente à garagem do vizinho, por quatro homens que escondiam as verdadeiras identidades com o auxílio de meias em forma de capuz, estilo dos carrascos da época medieval. Os criminosos estavam a bordo de um Ecosport prata e, como os carrascos, encenaram o show da morte ali mesmo, em espaço público, ao atirarem contra o ambientalista. Em seguida, eles jogaram o corpo no porta-malas e saíram em disparada, seqüestrando o corpo da vítima e aumentando a angústia e a incerteza dos familiares.
Humilde, Antonio morava em uma casa simples, com muro baixo ainda no reboco, portão de ferro e uma pequena varanda que separava a área externa da, aparentemente, frágil porta e estreita janela marrom goiaba. A fachada da casa branca encardida denunciava que as paredes não sentiam o gosto de tinta há vários anos. Detalhes que reforçam a idéia de que o crime não poderia ter sido motivado por dinheiro, e sim, vingança.
Eliane Sampaio Silva Reis conta que o marido tinha muitos desafetos que não andavam nada satisfeitos com a atuação de Antonio em defesa do meio ambiente e, em especial, da Lagoa do Abaeté, Área de Proteção Ambiental (APA) que ele protegia como a própria vida. A lista de prováveis “inimigos” do ambientalista é recheada por comerciantes e policiais.
Por ironia do destino, ou uma brincadeira sarcástica dos criminosos, o corpo, que suspeitam ser do ambientalista, foi encontrado carbonizado no porta-malas de um carro em uma reserva ambiental, na localidade de Cordoaria, em Camaçari.
* Exercício produzido a partir das informações publicadas nos jornais A Tarde, Correio da Bahia e no BA TV.
2 comments:
Bom texto, não é radical no uso das técnicas do jornalismo literário e, assim, mostra, especialmente em alguns trechos, como os textos das notícias dos jornais poderiam ser mais interessantes.
sim! exatamente isso! um texto como esse poderia estar nas páginas dos jornais e revistas, tranquilamente. e com certeza traria mais nobreza a um assunto tão triste.
parabéns, Josi! fica aí o exemplo, como Colling ressaltou, de como as notícias poderiam ser mais "deliciosas" de ler.
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