Wednesday, July 11, 2007

Jornalismo literário - A Fonte Nova é nossa!

Flávio Freitas

Cada um a descreve do seu jeito. Meu tio, por exemplo, torcedor do Vitória, o chama de maior estacionamento do mundo, pois lá cabem 80 mil bestas. O fato é que a Fonte Nova, que pertence ao Estado da Bahia e ocupa o 6° lugar entre os maiores estádios do Brasil, é o local de encontro entre os torcedores do Esporte Clube Bahia. Ao entrar no estádio, quem torce pelo tricolor confessa: "O coração bate mais forte, desde a entrada, que pode ser pelo lado do Dique do Tororó, ou por Nazaré, a festa é abundante." Torcedores se aglomeram em busca de mais um gole de cerveja, que parece funcionar como um combustível para gritaria, seja para impulsionar seu time, ou para xingar a senhora mãe do árbitro da partida. Confesso, eu faço os dois.

Particularmente, prefiro entrar pelo lado do Dique, pois venho andando por ali, afim de pedir ajudar aos orixás que lá ficam fixados. Quando chego na metade do caminho, logo aparecem os cambistas, a parte ruim da diversão, nos oferecendo um ingresso com preços absurdos. Claro que não compro, prefiro ajudar ao Bahia comprando direto na bilheteria, mesmo que esteja lotada, pois é o calor humano, aliado a uma cerveja gelada que te coloca dentro do jogo. Olho pra cima e penso: "Puxa! Como é grande a casa do meu time".

Na entrada existem vários corredores de ferro vermelho a uma altura de mais ou menos 120 cm, na tentativa fajuta de evitar a aglomeração. É lá que ocorre um empurra-empurra sadio, geralmente com o coro de "Bahia, o Bahia é minha vida! O Bahia é meu orgulho, o Bahia é meu amor ôôô!!!!". É nessa parte que os cabelos do seu corpo se arrepiam, seus olhos ameaçam chorar, seu subconsciente faz com que você vire todo o conteúdo da cerveja, mesmo sem querer você começa a cantar, até chegar na catraca, onde ficam os porteiros com coletes amarelos, fiscalizados por supervisores e policiais, para evitar algum tipo de suborno, ou permissão da entrada de amigos.

Entrei e, após dar 48 passos, começo a avistar o gramado do espetáculo, verdinho, parece até novo, vou subindo as escadas das arquibancadas enumeradas, não sei nem porque, já que ninguém respeita, aliás nem no ingresso vem a numeração. Na tentativa de achar um bom local para sentar, vou caminhado pelos dois anéis do estádio, dou preferência à sombra. Quando me sento, começo a analisar os quatro cantos do estádio, admirando sua beleza um pouco "suja" - sim, porque há um bom tempo a Fonte precisa de um bom banho.

Olho para o campo que mede 115m de comprimento por 92m de largura, dividido em dois campos marcado por uma linha de cal, onde os times travam suas batalhas. A área do escanteio é marcada por quatro bandeirinhas quadriculadas em amarelo e vermelho, que ficam de cada lado. As traves brancas, como manda o figurino. Se quiser ir ao banheiro, é melhor se segurar, se não der para aguentar se dirija ao muro mais próximo e reservado, pois os banheiros são imundos. Mesmo com vários problemas, basta o time do Bahia entrar em campo, seja até mesmo pelo campeonato da terceira divisão, que tudo é esquecido.

Começa a festa e o objetivo é um só, a vitória para que no final da partida o placar que fica atrás do gol do lado do Dique, lá no alto do muro, possa nos fazer mais uma vez felizes.

5 comments:

Leandro Colling said...

Bom texto, leva o leitor no estádio.

Najara Lima said...

Texto legal, com descrição, narração, estilo bem literário. Eu, aracajuana em terras soteropolitanas, não conheço a Fonte Nova, mas consegui sentir um pouco de como é o ambiente. A musiquinha eu já escutei na TV. A paixão eu sinto nas ruas, no trabalho, no prédio, na praia. Agora, mandar a galera fazer xixi no muro do estádio, Flávio? hehe

Esporte Amado said...

Obrigado!
Mas Najara, você não imagina como é a situação dos banheiros. Mesmo sendo uma falta de educação, é mais aconselhável.

Giselma Barbosa said...

Como uma boa torcedora do Bahia "Somos a turma tricolor..." conheço bem o estádio da Fonte Nova. Confesso que ultimamente tenho ido pouco, pois o mesmo precisa de uma reforma com urgência. Inclusive, precisam tirar os moradores de rua que estão morando por alí. De uns tempos para cá tou com medo de ir.
Em relação ao texto, excelente. Narração, Descrição, me senti mais uma vez no meio da torcida tricolor. Ah!!! Parabéns pelo time..risos..
Valeu!!!!

Fábio Guerra said...

Golpe baixo!! Como não elogiar um texto desse. Você cumpriu todas as etapas da descrição do estádio e transpôs a emoção de estar lá. Acho que mesmo quem não é Bahia pode sentir. Só uma dica: no último parágrafo por favor, substitua a palavra "vitória" por "triunfo". Acho que fica melhor!