Monday, July 9, 2007

Jornalismo literário - Extração dói?

Débora de Souza

Após a leitura de um texto interessantíssimo sobre dor durante depilação http://www.mdig.com.br/index.php?itemid=1384, uma lâmpada acendeu sob minha cabeça, me fazendo recordar o 2º dia em que mais senti dor. O 1º foi durante uma queda na porta da casa de um colega, após despedida da escola (escola, mesmo). Nesse dia, todos bebemoraram, menos eu. Como já é de costume, assisto à queda de meus amigos e colegas após horas de bebida. Cachaça faz mal e eu confirmo! É dose ter que agüentar bêbados passando mal e falando besteiras do tipo: "Você se lembra naquele dia... naquela festa... olha a cena se repetindo. Mas eu estou bem. Não estou bêbado". Meu primo que o diga.

São João é minha festa preferida. Todos os anos, tenho que participar da bela cena dele que, após tomar todas as cervejas da cidade, misturadas com licor, capeta (ou outras bebidas que não possuem nomes dignos), decide (ele não, o organismo) "pôr para fora". Um frio maravilhoso na praça central da cidade de Senhor do Bonfim e meu primo pingando de suor em meio à multidão de gente que dança forró.

Enfim... Estou aqui para falar da minha dor, da tortura, do sofrimento...

Mainha (aqui na Bahia chamamos assim) decidiu me levar ao dentista para fazer um bendito exame inicial. Até aí, tudo bem!

Daí, fui encaminhada para uma outra dentista, para (perdão pela repetição) iniciar o tratamento - dentário, é claro! Minha primeira visita à "Bonita" - assim eu a chamo - me deixou com um medo semelhante à da paciente da Penélope.

Imagina só a figura: imensa de gorda, loira, com aquele óculos de leitura que, geralmente é seguro na ponta do nariz, uma calça capri preta (no dia em que ela não vestir essa calça, ela vai correndo pedir para ser vestida), grita com as mínimas coisas, inclusive com o telefone tocando de vez em quando, o diálogo só é mantido após ela contar a vida toda. A consulta também só inicia depois que ela conta tudo sobre o ex-marido, o enteado, os pacientes anteriores...

A "Bonita" comunicou que eu deveria fazer uma restauração (obturação mudou de nome) e uma...uma...uma... extração! Eita nome terrível. O que me acalmou foi a cena da janela do consultório: o mar! O belíssimo mar de Itapoan estava diante de mim e o máximo que eu poderia fazer era admirá-lo.

Saí dali quase chorando só de imaginar a dor dos dois. A restauração foi até light. Mas meus pecados todos foram pagos numa MALDITA tarde.

Meus pais davam gargalhadas de ironia e felicidade. Afinal, eu não poderia continuar com aquele buraco (a palavra exige um sic) dentro de mim (do dente, viu!!!).

Lá se vou eu. Chorava de soluçar na sala de espera do consultório. Todos me olhavam apreensivos e com vontade de perguntar o que estava acontecendo já que, eu neeeeem havia entrado ainda na MALDITA sala.

Na recepção quente, apertada, umas oito pessoas assistiam Sessão da Tarde e, para variar, um daqueles filmes que há décadas passam na televisão. Sempre tem uma criança pentelhando, subindo no sofá, rasgando ou riscando aquelas revistas antigas que falam da vida de famosos, e a besta da mãe dizendo: "Pára, menino! Eu não lhe trago mais!"

O meu nervoso aumentava cada vez que via alguém saíndo da sala da MALDITA. Pensava: "Serei a próxima."

Ao ser chamada, o soluçar só piorou e o choro aumentou. Entrei. O que ainda me consolava era aquela praia de Itapoan, o marzão todo à minha frente, um Sol... P-E-R-F-E-I-T-O!!!

Sentei. Adivinha o que a "Bonita" me disse?

- Calma! Não vai doer nada. Vou dar anestesia e você não vai sentir dor.

Eita comentário infeliz o dela. Por quê será que os médicos especialistas em nos fazer nervosas, sempre dizem isso? Pensam que vai acalmar e só pioram a situação.

Meu maior medo era que a anestesia doesse. Anestesia é agulha, e agulha, quando entra em contato com o nosso corpo, dói (no bom - se é que existe - sentido).

Aquele gel antes da anestesia até engana. Depois dele... 1 anestesia...2...3...4...5...6 e eu ainda sentia o organismo reagir aos toques em minha boca.

Não agüentando mais, ela decidiu me torturar. A miserável não tinha pena, não! Agarrou no meu dente e eu agarrei naquela cintura gorda, e ela puxava, e eu apertava... Até que não agüentei mais e pedi para parar. Dói mais que qualquer outra dor (nunca fui gestante).

Conversa vai, conversa vem... Toda dentista tem que vir com um papo imbecil que nós (mulheres) devemos concentrar nossos pensamentos num homem que consideramos ser o mais bonito do mundo e aquele com quem gostaríamos de estar num momento especial. Claro que o Gianechinni surgiu na minha mente, embora tivesse que agüentar o barrigudo que estava comigo.

O momento de arrancar dente não foi nem um pouco especial para mim. Pelo contrário, foi terrível!

Voltamos ao sacrifício. Puxa de lá, aperta a cintura de cá... Até que, o MALDITO saiu. Sou gente ruim. Tomo 6 anestesias que não fazem efeito e ainda levo um tempão para arrancar o dente.

UFA! A extração acabou. A miseravona - assim passei a chamá-la - quase ficou com a cintura igualzinha a minha. Só de lembrar que, enquanto eu apertava ela, emocionalmente colocando para fora a minha dor, os olhos da MALDITA quase pularam em cima de mim.

De hoje em diante, quando alguém pergunta sobre extração, não posso negar, extração dói sim!

1 comment:

Leandro Colling said...

Bom texto, mas o leitor que não leu o texto na Penélope fica boiando.