Otaviano Maia
Sons de tiros sangram a normalidade da rua Guararapes, no bairro de Itapuã.
Em frente da casa nº 11 - uma residência bem modesta, com fachada branca já desbotada e com recortes de limo, cujo muro rebocado, sem cor e baixo sustenta um pequeno portão preto - quatro homens encapuzados descem de um Ford Ecosport, prata, de placa JHS-9300, e descarregam desenfreadamente os cartuchos de suas pistolas semi-automáticas PT-040, que, no Brasil, são de uso exclusivo das polícias civil e militar.
Atiram. Ferem. Derrubam e, depois, tal qual uma mala velha, seguram e arremessam o corpo de Antônio Conceição dos Reis para o bagageiro do carro que logo sai em alucinante fuga.
O cheiro de borracha queimada tomou conta do ar. Pedaços do cérebro de um homem tomaram conta de uma parte do asfalto que corta a rua. Os vizinhos não falam, não reagem, não comentam o acontecido para o showrnalismo. Dos moradores, tomou conta o medo.
Antônio, presidente da ONG Nativos de Itapuã, era homem um negro, alto, sério, magro, há 18 anos servia a causa ambiental sem cessar. Ao longo dos seus 44 anos, já estava acostumado a ser ameaçado, seja por carta, por telefone... Mas isso não o impedia de denunciar, de ser desaforado e implacável com aqueles que se dispunham a agredir o meio ambiente, o qual ele estava centrado em defender.
Por coincidência, bizarrice ou ironia imprópria do destino, um corpo, que a polícia acredita ser do ambientalista alado, foi encontrado numa reserva ambiental de Camaçari, no distrito de Vila de Abrantes, 16 km de Salvador.
Policiais, comerciantes, barraqueiros. Eram tantos os que queriam calar sua voz. A 12ª Circuncisão Policial, na Avenida Otavio Mangabeira, em Itapuã, possui uma série de processos onde Antônio é autor. Um deles é contra um grupo de policiais civis que invadiram sua casa, no último seis de fevereiro.
Sua esposa, Eliane Sampaio Reis e sua filha, deficiente física, com apenas 16 anos de idade, jamais o verão de novo, pelo menos nessa vida.
Em outro canto da cidade, a ação começa a render seus tristes resultados. Raquel Pinheiro, uma jovem de 28 anos, cabelos lisos, avermelhados, de rosto simples, sonhador e firme, chega a seu trabalho. Na sala 212, do prédio vermelho no Centro Administrativo da Bahia, ela inicia suas funções como assistente de jornalismo, na Ouvidoria Geral do Estado.
Ao iniciar as leituras dos jornais diários, ela reconhece na foto de capa o rosto de Antonio. Fica nervosa com a circunstância. Sofre com a injustiça e chora por conta da impunidade que está por vir.
Em frente da casa nº 11 - uma residência bem modesta, com fachada branca já desbotada e com recortes de limo, cujo muro rebocado, sem cor e baixo sustenta um pequeno portão preto - quatro homens encapuzados descem de um Ford Ecosport, prata, de placa JHS-9300, e descarregam desenfreadamente os cartuchos de suas pistolas semi-automáticas PT-040, que, no Brasil, são de uso exclusivo das polícias civil e militar.
Atiram. Ferem. Derrubam e, depois, tal qual uma mala velha, seguram e arremessam o corpo de Antônio Conceição dos Reis para o bagageiro do carro que logo sai em alucinante fuga.
O cheiro de borracha queimada tomou conta do ar. Pedaços do cérebro de um homem tomaram conta de uma parte do asfalto que corta a rua. Os vizinhos não falam, não reagem, não comentam o acontecido para o showrnalismo. Dos moradores, tomou conta o medo.
Antônio, presidente da ONG Nativos de Itapuã, era homem um negro, alto, sério, magro, há 18 anos servia a causa ambiental sem cessar. Ao longo dos seus 44 anos, já estava acostumado a ser ameaçado, seja por carta, por telefone... Mas isso não o impedia de denunciar, de ser desaforado e implacável com aqueles que se dispunham a agredir o meio ambiente, o qual ele estava centrado em defender.
Por coincidência, bizarrice ou ironia imprópria do destino, um corpo, que a polícia acredita ser do ambientalista alado, foi encontrado numa reserva ambiental de Camaçari, no distrito de Vila de Abrantes, 16 km de Salvador.
Policiais, comerciantes, barraqueiros. Eram tantos os que queriam calar sua voz. A 12ª Circuncisão Policial, na Avenida Otavio Mangabeira, em Itapuã, possui uma série de processos onde Antônio é autor. Um deles é contra um grupo de policiais civis que invadiram sua casa, no último seis de fevereiro.
Sua esposa, Eliane Sampaio Reis e sua filha, deficiente física, com apenas 16 anos de idade, jamais o verão de novo, pelo menos nessa vida.
Em outro canto da cidade, a ação começa a render seus tristes resultados. Raquel Pinheiro, uma jovem de 28 anos, cabelos lisos, avermelhados, de rosto simples, sonhador e firme, chega a seu trabalho. Na sala 212, do prédio vermelho no Centro Administrativo da Bahia, ela inicia suas funções como assistente de jornalismo, na Ouvidoria Geral do Estado.
Ao iniciar as leituras dos jornais diários, ela reconhece na foto de capa o rosto de Antonio. Fica nervosa com a circunstância. Sofre com a injustiça e chora por conta da impunidade que está por vir.
- A ordem realmente não pode ser afetada! - diz a moça.
Com um olhar infinito, pensa em quantos casos desses já ouvira e de quantos mais haveria de escutar, sofrer e aceitar, apenas, aceitar.
Lembrou-se do ano de 2005, quando ingressava na Ouvidoria como atendente, na central telefônica. Ela foi responsável pela manifestação número 18111, feita através de uma carta, recebida em 18/02/2005. O homem da foto escreveu:
"O Grupo Nativo vem por meio desta reiterar as solicitações para implantar uma polícia especial ou colocar policias nos dois módulos do mesmo vem ficar com dois homens e outro o outro está sendo destruído pelo tempo, isto mostra a falta de interesse com a integridade física dos nossos visitantes que aqui chega, trazendo recursos para os cofres públicos.
No dia 15/02/05 os marginais assaltaram três italianos dentro da área que era para ser segura, próximo aos quiosques, isto é vergonhoso, as autoridades de segurança alega que os visitantes vão para as dunas, por isso são roubados, e dentro do centro comercial é o que?
Será que vamos esperar um óbito internacional para fazer uma polícia voltada para a segurança, e o nome do nosso Estado e o bairro de Itapuã fica como? Segurança é papel do Estado, o sr. é informado que o Abaeté e palco do crime, por que não combate?
Dia 16/02/2005, o Jornal A TARDE, publicou a matéria, eu comentando com uma pessoa na câmara de vereadores, a filha dele já sabia na Bélgica deste fato via internet isto é mal, isto acaba com o Abaeté.
A segurança que faz este trabalho no parque deixa a desejar, são pessoas desqualificadas na área de segurança, hoje as 09:25 hs, um grupo de oito pessoas, sendo três de Israel subiu para a duna e os seguranças não foram avisados, está fazendo o que no parque com medo dos marginais pegar eles, isto é mal."
6 comments:
Parte inicial está ok, mas creio que não seria necessário transcrever toda a carta no final. Aliás, falta um final ao texto.
É, eu tive a mesma sensação. Legal o estilo narrativo e bem descritivo do começo, bacana a inserção da personagem que chora ao saber da morte do ambientalista. Dá um tom bem humanista ao texto. Aí no final você vem com essa carta um tanto enfadonha e tira o doce da boca da criança que esperava o desfecho do texto que desvia do seu caminho sem nem avisar aos navegantes.
Fiquei esperando o final do texto. acho que poderia ter dado um encerramento melhor para o texto.
Mas, ficou legal assim também.
Achei interessante a escolha das palavras durante o texto. Acredito que seja uma habilidade importante para qualquer escritor, pois mexe com a emoção do leitor. O texto foi muito bem escrito e conduzido, até o já comentado desfecho (aliás, à falta dele).
Saudações Tricolores!
Concordo com Leandro. Ah, cuidado com a precisão. A casa do ambientalista é a de número 14. Também não entendi o uso da palavra "showrnalismo", quando vc diz que os moradores não quiseram dar entrevista (o que enriqueceria qualquer texto jornalístico)...
Oi Otavius!
Showrnalismo (Arbex Jr), Cabra marcado para morrer (Eduardo Coutinho)hummm.....nada de novo nestes termos.
Também fiquei esperando um desfecho, na qual o ritmo foi caindo um pouco.
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